Nei Duclós
Sei de bibliotecas inteiras, acumuladas por pensadores
brasileiros, que ficam em caixas esperando vez nas bibliotecas universitárias
ou públicas. E de caixas e caixas de livros sem importância que o governo
distribui para as escolas e que ficam atiradas em sua maioria em um canto
qualquer. Em 40 anos de profissão, trabalhando por muito tempo na análise e
divulgação de livros, acumulei uma quantidade enorme de exemplares, a maioria
descartável, datada. Poucas preciosidades resistem ao tempo e podem ocupar o espaço
escasso de que dispomos para eles. Tenho também meu acervo de livros que
publiquei e continuam sendo vendidos aos poucos, num trabalho de formiguinha,
para quem gosta e quer literatura.
Hoje, dia do escritor, há a admirável campanha de “esquecer”
exemplares em determinados lugares para que as pessoas achem. Nada mais
apropriado. O preço do livro impede que se tenha acesso a muita obra boa e
certamente haverá, entre os esquecidos, títulos que merecem ser levados para
casa e lidos. Já participei dessa campanha anos atrás. E Na Bienal do Livro do
Rio em 2015 ditribuí uma caxa de livros para o público que compareceu ao grande
evento, a maioria estudantes que naquela edição não tinham sido subsidiados
para adquirir algum livro de sua preferência. Ficaram com o meu Refúgio do
Príncipe, que é uma seleta de contos e crônicas que publiquei na imprensa e nos
blogs.
Este ano cheguei a separar alguns exemplares para “esquecer”
por aí, mas não achei pertinente. Primeiro, porque já participei nos outros
anos (veja foto), com retorno zero. Quem acha e fica nem sempre está afim. Pega
por curiosidade ou porque está dando sopa. “Não sou dessa coisa de ler” me
disseram quando eu vendia meus livros no corpo a corpo com leitores em
potencial (hoje não faço mais isso). Segundo, porque não é justo para quem tem
comprado meus livros, não apenas os impressos, mas os ebooks. Pagar por um PDF
é mais um ato de solidariedade do que outra coisa, mas tenho obtido boa
repercussão nessa sintonia fina com leitores carinhosos e dedicados.
Faço como os músicos que se recusam a tocar por cerveja ou
prestígio. Vendo livros, mesmo por um valor simbólico (normalmente não é),
assim como tenho proposto receber uma remuneração por qualquer texto
solicitado. A profissão de escritor não existe, mas eu insito nela desde que
comecei a divulgar meu trabalho. Acredito que, de tanto serem esnobados, os
livros acabarão nos esquecendo, nos deixando á mercê da barbárie. Em vez da
sabedoria e da inspiração, o xingamento e a ruptura. É o que estamos vivendo.
Falta leitura de livros bons. Nossos best-sellers são de uma infinita pobreza
intelectual. Hoje fui na edícula no fundo do quintal onde guardo meus
exemplares e lá capturei alguns autores da Biblioteca Miguel Lobato Duclós.
Hegel, Plutarco, Schopenhauer. Perder tempo é não estudar filosofia. Ou não ler
boa literatura.
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