8 de julho de 2017

EASY RIDER: AMÉRICA AO AR LIVRE



Nei Duclós

Revejo pela milésima vez cenas de Easy Rider, traduzido por Sem Destno, mas é uma expressão americana antiga, que define a vida mansa, principalmente de malandro que vive sem trabalhar. Os dois personagens de moto tinham destino certo: queriam levantar uma grana preta traficando drogas numa viagem para lugares remotos, estados pobres e racistas dos Estados Unidos, mas se deram mal. Expuseram o carona para os facínoras que o mataram. E se dispersaram numa viagem de ácido num cemitério e nas ruas de Nova Orleans, no carnaval de Mardi Grass. Nós explodimos tudo, diz Peter Fonda, respondendo a Denis Hopper que considerava vitoriosa a expedição.

É a saga de uma grande derrota, que mostra a América urbana e rural ao ar livre, fora do capô dos carros, com os cenários sendo apresentados conforme o ritmo da magnífica trilha musical. Como num faroeste, mas muito além do Monument Valley. Cinema de vanguarda até hoje, Easy Rider é o impacto provocado por novos hábitos e costumes diante de uma nação hipócrita que celebrava a liberdade mas tinha pânico dela, conforme a antológica fala de Jack Nickolson, que emergiu neste filme tornando-se estrela de primeira grandeza.

O cinema em Easy Rider é a mixagem rápida e radical de cenários caóticos de uma América que escondia sua riqueza humana, a dos marginalizados e das cidades abandonadas. Deste filme podemos dizer que nunca mais fomos os mesmos. Tirou a Sétima Arte definitivamente dos estúdios e jogou-o no meio do caos urbano e social da nação mais rica do mundo. Uma bofetada de Hopper, estrela junto com Nickolson criados no cinema marginal de Roger Corman, em que tudo podia desde que fosse de baixo orçamento.

Há links poderosos com o espírito pioneiro dos americanos que se deslocam pela aventura, com os comboio9s antigos no meio do nada, com as confraternizações coletivas e intensas das festas populares mal comportadas, com bares obscuros cheios de ódio e ressentimento. As casas detonadas na beira da estrada, a humanidade brutalizada no grande interiorzão, tudo é devassado por essa viagem terminal que ao inaugurar uma nova era a enterra com dois tiros de escopeta e uma moto voando em fogo para o acostamento.

We blow it, man.


2 comentários:

  1. Easy Rider...Sem Destino....antes e depois. (Gilberto Motta - Florianópolis/SC)

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