26 de abril de 2017

CARAMEZ: DIRETO AO PONTO



Nei Duclós

Carlos Caramez lança A Vida das Sobras (Leitura XXI, 55 pgs.), seu terceiro livro depois de Última Safra do Silêncio e Construção das Ruínas. Sua poesia diz assim:


"Não sei que tempo é esse
essa não é a minha vida
esse não é o meu corpo
nem visto a minha roupa

não sou a pessoa que vocês procuram
não tenho o que vocês precisam
não faço o que vocês imaginam
não sei o que vocês querem saber"
(Carlos Caramez)

Suas palavras reportam o completo desmanche do indivíduo num país que ele define como sendo "sem noção". Na receita dessa tragédia pessoal e coletiva, as dívidas, os juros, a indiferença, a brutalidade das relações humanas, levam ao mau cheiro, à podridão, à morte da nação e da alma.

Ao fazer o serviço, sua poesia então procura definir o que lhe resta depois de tanta depuração. Não se trata mais do indivíduo, que dançou nessa roda hedionda de um Brasil sem fundos, na autofagia de uma situação terminal que se multiplica em todos os momentos. O que resta é a sua palavra:

"Preciso firmar meu ponto
nunca ficar pronto"

Caramez parece que se esconde por anos, depois retorna com a mesma cara lavada e sorriso bizarro. Ele é assim mesmo e este livro explica esse comportamento que trafega no escuro mas se dedica à vocação do sol. Ele nos ilumina com sua radicalidade. Não se trata do ombro amigo, da sensibilidade, da escola poética, mas da dedicação à verdade da sua palavra.

Um poeta que sempre faz falta. Que bom que voltaste, amigo estranho e distante que nos impacta com seu trabalho sem concessões e sem pose

"Vivo de sumiços
me evaporo sem ser visto
quando me identifico
apresento identidade"

Aí está o poeta. Lançamento dia 6 de junho no Festpoa Literária às 15h30min. No Instituto Goethe, rua 24 de outubro 112, Independência, Porto Alegre.

Vá lá conhecê-lo. Depois ele some.




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