21 de janeiro de 2016

E AS MÁQUINAS PARARAM

Nei Duclós

Parem as máquinas! era o grito para suspender a impressão do jornal por força de um furo, uma notícia importante de última hora. Com a revolução digital, que dispensa intermediários da notícia e transforma cada pessoa numa fonte e numa mídia, o jornalismo acaba cumprindo a ordem, mesmo à revelia.  O poder da imprensa, com isenção e credibilidade, entra em parafuso com o avanço da tirania mascarada de democracia, como a que temos no Brasil.

A censura se transformou. Em vez de submeter o trabalho jornalístico para um censor, como acontecia nos anos de chumbo (hoje, com 60 mil assassinatos ano, são os anos de chumbo grosso), mata-se repórter investigativo, compra-se colunistas e blogueiros, e mexe perversamente na ess~encia do ofício, que em vez de jornalismo se transformou em comunicação, o que inclui publicidade e assessorias. Quem não comunica e tenta fazer jornalismo, se trumbica. Não deixam.

Para isso contam com os sabichões sem redação, os que pontificam sobre o trabalho da imprensa sem nunca ter que enfrentar um fechamento. Instala-se a cultura do Boletim de Ocorrência e da submissão as fontes oficiais. N~çao se reporta mais, apenas se transcreve, infinitamente em milhares de sites, a mesma frase tosca travestida de hard news. É sobre esse rolo que tenho falado no Twitter, onde produzo uma grande quantidade de frases que são reproduzidas indefinadamente.

Meu amigo no TT, Ricardo Nester ‏@NesterTweets , teve a manha de reunir tudo o que escrevi sobre o assunto. Ponho aqui no blog a coleção que ele reuniu das frases de minha autoria sobre jornalismo hoje no Brasil. Veterano de 40 anos de profissão, tendo trabalhado em Folha, IstoÉ, Senhor etc., posso falar do que sei. E acompanho a mudança, pois sou blogueiro pioneiro, desde 2002. Os tuits são de autoria de @neiduclos. A imagem é foto de German Lorca.

E para não dizer que só critico, tenho um PDF com uma série de artigos com o título O JORNALISMO QUE APRENDI A FAZER. Quem quiser adquirir um exemplar, é só escrever para neiduclos@gmail.com Alguns desses artigos estão neste link http://www.consciencia.org/neiduclos/categoria/edicao


JORNALISMO EM TEMPOS DE TIRANIA

Nei Duclós

Conteúdo é o acordo entre publicidade e jornalismo.

Suspeito é o suposto culpado."Suposto suspeito" (Folha) é o suposto suposto. Esse "jornalismo" vai chegar ao suposto suposto suposto?

Se fossem proibidas as expressões "Pois é" e "Isso mesmo", o jornalismo e a publicidade do Brasil seriam reeduzidos à metade do seu volume

 Link em São Joaquim para dizer que está frio ou no shopping para perguntar se vale a pena é o máximo de jornalismo que a ditadura suporta
  
  O jornalismo analógico tenta fazer suspense em plena era digital. Aguardem! Quem foi o zagueiro da Copa que não cometeu falta? Puxa, quem?
  
Tanto a política quanto o jornalismo precisam do espírito público, que não existe mais. Triunfou a mesquinharia

A TV é tão tosca que para comentar futebol convoca ex-jogadores, para  arbitragem, ex-árbitro. A especialidade é jornalismo, não futebol

Especialista em futebol é o Dunga, não o jornalista. Este, precisa dominar seu próprio ofício, o jornalismo. Saber escutar, saber escrever

O jornalismo virou um prontuário de delegacia. Reproduzem B.O.s e não fazem reportagem.
  
Polícia retira suposta bomba do aeroporto. Suposto filho de goleiro é entregue a avô. Suposto jornal supõe que faz jornalismo

Por que não fazem uma matéria completa, com lead, sub-lead, miolo e pé, como acontece no jornalismo normal de todos os países? "Inovamos"?

O jornalismo atual no Brasil é apenas uma suposição.O fato é que abdicamos dele para agradar políticos e anunciantes e escapar dos matadores

Quem cobre futebol tem de entender de jornalismo, não de futebol. Basta consultar as fontes e reportar decentemente. Essa é a especialidade

Jornalismo agora só comunica, não investiga, não pergunta, não levanta questões. Por isso só comunica o que não interessa. Se trumbicaram

No Estadão: "Pato, que chegou aos Estados Unidos poucas horas antes do TREINO, TREINOU separadamente". O jornalismo não entra em campo

Se o editor te diz que texto de jornal e revista é a mesma coisa, só que o de revista tem cereja em cima, então o jornalismo está perdido

Não tenho mais estômago para as notícias. Nem para truques de linguagem nos artigos. Nem para jornalismo mal escrito. Atingi a cota

O princípio do jornalismo assassinado era muito simples e direto: você não sobreviveria numa redação de qualidade se não soubesse escrever

A mediocridade fareja e expulsa o talento das redações, depois os jornais querem sair da crise. Não vão. É só tirar as patas do jornalismo
  
Jornalismo é soma de linguagens, trabalhadas por autores, que abordam percepções pessoais e coletivas. Todo fato vira versão na mídia

Jornalismo não é caça às novidades, exposição de curiosidades ou atenção obsessiva em lugares comuns da política, cultura e economia

Folha : "A administração do Iguatemi informou que está colaborando com as autoridades para esclarecer o caso."Que informação! Bye, jornalismo

A boa notícia é” – outra coisa irritante. Como se o jornalismo fosse culpado das merdas que ocorrem e precisasse dourar a pílula

Copiar relatório do Corpo de Bombeiros, sem verificar o local do acidente nem entrevistar acusados,sobreviventes e vítimas: adeus,jornalismo
  
Bom Dia, Brasil, o esplendor do jornalismo de sofá
  
O jornalismo de sofá da televisão brasileira serve de trono para figuras carimbadas e fontes suspeitas. Que se lixe o público

"Rumores dizem" é bom. O jornalismo pátrio se supera. Imaginem um grupo de Rumores dando entrevista
  
O jornalista é um especialista em jornalismo, não um especialista em generalidades. Sua ciência é o ofício que abraçou

O jornalismo é uma atividade em desuso, que foi substituída pelo formigar incessante dos eventos supérfluos e pela mediocridade triunfante

Criança morre soterrada e o jornal diz: "Familiares contaram que os pais da criança estavam muito abalados." Impressionante, o jornalismo

Jornalismo é produzir (e não reproduzir) uma leitura dos fatos. E os fatos são versões das fontes

 Escrivão de polícia não é repórter. Versão policial não é reportagem. Reprodução de BO não é jornalismo
    
    Em  anos de jornalismo, nunca usei ou vi usar por conta. Dava cascudo. De repente visitamos os jornais e tem um por conta por parágrafo
      
    Será q ñ existe  editor que encarregue repórter de telefonar e fazer perguntas básicas?
      
        "A polícia informou, o general confirmou, fontes médicas assinalaram, o subsecretário defendeu" que o jornalismo acabou http://bit.ly/hFHKL
      
        "Puxa, o que é a natureza" é a expressão embutida na perplexidade do jornalismo diante das mudanças. Só que nada mudou. Façam reportagens
      
    Quanto mais você mente nos espaços nobres do jornalismo econômico, mais credibilidade acumula e mais prêmios  leva para a estante
   
    "Segundo" várias vezes é pouco. Os jornalistas usam "ainda segundo", já que insistem no BO. É o jornalismo terceirizado
  
     Mil vezes a notícia do desabamento e das possíveis vítimas.Nada sobre a Real Engenharia,responsável pela obra.Eta jornalismo rastaquera
      
        Jornalismo não é reproduzir BOs. Não é detectar sinalizações.Não é celebrar alavancagens.Não é dar conta de que. É informar, lembram?
   
    Fofoca é fofoca, não jornalismo. Jornalismo é o que não deixam fazer para divulgar o fuc fuc das celebridades
    
    O conteudismo é uma praga recente que substituiu o jornalismo. Gera receita para os luminares do engessamento do texto

    "Segundo a Polícia/ o homem estava embriagado/ o acidente ocorreu". Tantas décadas de jornalismo para cairmos nesse ramerrão. É um crime

    "Dias desses" e "ninguém menos" usados por grifes do jornalismo. Degringolamos
      
    O jornalismo mudou estruturalmente. Em vez de reportagens, colunas. Em vez da verdade, dossiês. Em vez do talento, uma súcia de nulidades

    Jornalistas deveriam lutar contra censura exercida por donos dos jornais e seus asseclas.Jornalismo é de interesse público,garantido por lei

    Sabe o jornalismo? Morreu. Os caga-regras, os ditadorzinhos, os interesses corporativos e políticos mataram. Mas... http://bit.ly/hBbY
    
   A reportagem é uma espécie de crime hediondo no Jornalismo Beócio, que exige a idiotia aparelhada para poder funcionar
   
O jornalismo beócio exige submissão total para fazer tabula rasa do noticiario e assim permitir que idiotas colunistas ganhem destaque
 
Nenhum total de mortos deve prescindir do acompanhamento de ao menos ou pelo menos, p/sugerir rigor dos dados (Máximas do jornalismo beócio)
  
Não se diz o principal no primeiro parágrafo. Segue-se a estrutura do BO, narrativa de escrivão de delegacia (Máximas do Jornalismo Beócio)
      
Uma fonte basta, desde que seja citada em todas as frases. Por isso se usa segundo, de acordo, no entender (Máximas do Jornalismo Beócio
  
Só existe fato se houver Boletim de Ocorrência. Sem BO o fato é suposto (Màximas do Jornalismo Beócio)
    
Quer saber como foi a chuva? Não saberás. Terás alguns números empilhados e frases soltas de fontes oficiais. O jornalismo não cuida disso

Jornalismo é procurar saber quem treinou o matador de Realengo e não achar que foi um ato isolado e que qualquer um aprende a atirar
  
Jornalismo é não achar "normal" e procurar saber quem jogou o casal do mesmo andar pelo espaço de dois meses. Uma herança está em jogo.
        
O jornalismo feliz vive no mundo imaginário do Planeta, lugar onde os povos da floresta tem orelha e rabo de macaco, como no filme Avatar
    
Elite é uma palavra que enche a boca do jornalismo feliz. Cara, como eles gostam de elite
   
Jornalismo é uma atividade proibida por lei
   
"De acordo" não basta. É preciso usar "ainda de acordo". É o jornalismo, que não acorda. Ou ainda não acorda
   
O ex-beatle acena para seus ex-fãs. Tudo é reportado pelo ex-jornalismo

Incrível como o jornalismo brasileiro vive à revelia dos fatos. É pura soberba: acha que as coisas só acontecem depois que viram pauta
      
Matéria sobre vantagens do uso de pacotes de celular é publicidade, não jornalismo. "Dá para fazer uma boa economia" diz a "entrevistada"
   
"A policia se dirigiu ao local, a operação teve início e a Promotoria não informou" dão o tom das notícias policiais. Adeus, jornalismo

Jornalismo é peça de marketing. Pauta é evento de anunciante. Opiniões são as relacionadas com o caixa. Reportagem é ilustração de anúncio
   
Meus textos sobre jornalismo são decanos. Alguns são adotados em cursos, sem me pedir licença. Outros são apropriados. Vale tudo
   
O maior vício do jornalismo atual é completar as frases das fontes ou implantar pergunta que já contém a resposta. É a velha pose do saber
 
A indústria financeira, do espetáculo e do marketing devem se recolher a seus espaços e permitir que o jornalismo se manifeste.Senão,é o fim
 
Credibilidade é a separação entre jornalismo e publicidade
 
Notícia é jornalismo. Boa notícia é propaganda
 
Os fatos já são horríveis. Com esse jornalismo, ficam insuportáveis
 
Segundo o porta-voz, não havia informação e ninguém estava lá. É o jornalismo pela ausência, muito em voga

Acho que não se usa mais, mas a pior expressão do jornalismo de negócios é "abiscoitar uma fatia de mercado"
   
O time do São Paulo "mira ponta", diz a Folha. O jornalismo é uma miragem

Jornalismo é um release corporativo emitido pela assessoria de imprensa do crime organizado
 
Não há informações, diz o jornal. O jornalismo agora serve para noticiar que não há notícia
 
Jornalismo é o que vai acontecer na novela
 
Em certo momento do jornalismo, final dos anos , decidiu-se que o negócio eram os Serviços. Até hoje estamos nessa. Dicas sobre tudo. Saco
  
"Condutor do veiculo, ocorreu o acidente": o escrivão de BOs domina os textos das hard news, um nicho do jornalismo atirado ao deus dará
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Para o Globo, jornalismo é a Sandra Annenberg com voz e cara de boi compungido lamentando o acidente. Isso deixa para as vitimas. Informe!
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  Repórter não sai mais para rua levantar os dados de uma reportagem? Fica fazendo plantão em delegacia? Jornalismo está fora da lei?
 
O jornalismo brasileiro tem certeza que tudo passa, por isso para que se preocupar? Melhor ficar reportando celebridade na praia.
 
Nunca foi usado o verbo mirar no jornalismo como hoje. Toda hora alguém mira. Saco.

O comunicólogo é o cagador de teses sobre o que ajudou a matar, o jornalismo.
  
O pior foram as cordilheiras de teses sobre o surto comunicativo. Tudo para justificar o assassinato do jornalismo.
  
O jornalismo foi substituído pela comunicação no final dos anos , quando virou moda falar em sociedade de consumo.Cidadão virou consumidor
  
"Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade." (George Orwell). Eis a fonte.
   
O jornalismo está em prisão condicional. Estaria, melhor dizendo.
   
Podemos sintetizar assim: se houvesse jornalismo e isto fosse um jornal, você estaria lendo uma suposta notícia,
   
Só no jornalismo brasileiro os leitores são convidados a "conferir" tudo que é merda. Nenhum jornal estrangeiro diz confira. Que mania.
   
É insuportável o jornalismo que se repete ao infinito achando que é assim que funciona. Não é assim. Pauta dá trabalho.
   
Jornalismo é pauta. O resto é redundância. Pauta é seleção, idéia original, abordagem específica, criação. O resto vai a reboque.
    
O jornalismo engessado de hoje é fruto do jornalismo formatado nos chamados anos de chumbo. O comércio dos dossiês é a disputa pelo butim.
 
Jornalismo opinativo é quando a sua opinião coincide com a do dono do jornal.
 
Repórter não é estrela e jornalismo não é espetáculo. A reportagem deve chegar limpa, clara, sem obstáculos à percepção do público.
 
Os jornais estão fechando por falta de jornalismo, mas nunca houve tanta comunicação.
 
Comunicação é a orquidea que medrou na árvore generosa do jornalismo e devorou-lhe o caule, raiz,folhas e frutos.
 
Comunicação é a Voz do Dono. Jornalismo é quando o repórter rifa seu emprego.
 
Comunicação adora se fantasiar de Jornalismo. É seu personagem favorito. O problema é que o rabo aparece.
 
Jornalismo investigativo é a reportagem escrita pelos escrivães
 
Jornalismo opinativo é quando a sua opinião coincide com a do dono do jornal.
 
G: "Cariocas vão à praia em fim de semana quente no Rio ". É o jornalismo brasileiro em ação.

Essas matérias diárias, recorrentes, iguais na TV, rádio e jornal, sobre o gramado do Maracanã dá a entender que o jornalismo pasta.
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"Fumaça preta indica que não há novo Papa", informa manchete da Folha. Indica também a que foi reduzido o jornalismo.

Na primeira página da Folha, três manchetes com isto: Após bombeiros, após ação, após três anos. É o apóscalipse do jornalismo.

"Rodovias têm manhã de trânsito intenso na saída de São Paulo". Já o jornalismo parou faz tempo.

Folha: "Paulistanos vão à praia durante o feriado". E o jornalismo, aproveitando o furo de reportagem, continua dormindo.

"Volta do feriado tem congestionamento e lentidão nas estradas". Acontece o mesmo com o jornalismo.

"Ciclista colide com poste". Ninguém "colide" num texto decente. Só em jornalismo tosco.

Para fazer jornalismo deveria ser obrigatória a alfabetização.

Boliviano não corre "risco de morte", diz a Folha. Jornalismo de morte esse. Corre risco de vida e não admite.

Porchat se separa, Bell Marques deixará Chiclete com Banana, Ivete Sangalo dá uma de Beyoncé, Bon Jovi adia show: o jornalismo fundamental

Jornalismo é reportar o peido da celebridade.

Nos jornalismo, policial não prende, efetua prisão; carros não batem, viaturas colidem; criminosos confessos são tratados como suspeitos etc

O jornalismo foi extinto pela tirania, que teme ser desmascarada. Ficaram os sofás ocupados por pernas cruzadas e carinhas interessantes.
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O jornalismo existe para reportar a publicidade.

Após sindicância, após silêncio, após ser traída, após acidente, após pressão: tudo nas manchetes de capa da Folha. É o após jornalismo.
   
No Estadão o após-jornalismo está pior: após tiroteio, após protesto, após Cook, após mudança e após Itália. Tudo chamada de primeira página

Após reunião, após pai, após cirurgia, após tragédia, após cair, após CEO: chamadas de capa do G, também bamba em após jornalismo.

Na Folha tem mais: após eleição, após casamento, após quase. É o esplendor do após-jornalismo.

Após cair, após chuva, após orquídea: chamadas de primeira página da Folha. É o após-jornalismo.

Ex-BBB só de lingerie "filosofa", diz jornal. É o que acontece quando o jornalismo para de pensar.

Jornalismo é o que a publicidade decide o que é notícia.

O jornalismo no Brasil é uma profissão extinta que demitiu seus arqueólogos. Não tem perigo de saber do que se trata.

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