Nei Duclós
Camões já disse, no cânone da língua
o que de sonoro fica, sarça ardente
o testamento em pedra e de azulejo
par da montanha, irmão do templo
Verso pelo avesso em palavras claras
rima e consonância, como tambores
disso se serviram antigos adventos
o mar e suas velas, ímpeto do império
Não tenho Portugal em minhas veias
todo sangue ao meu torrão pertence
mas nas artérias, de coração cheio
venho dos princípios de Lisboa ou Tejo
Nasci no Porto, cruzei dor de sargaços
passo na costa do gentio sem nódoas
minha nau convence a praia exposta
que os destinos aqui enfim se casam
Falar é denso, bem mais do que o escrito
essa é a herança do Brasil proscrito
que deságua em mim, feito cana e selva
jugo do açúcar e História ao fio do ferro
O poeta que no fim inventa a saga
decide o que fazer com a tinta ágrafa
passamos a limpo a flor deste naufrágio
Perdoa, Portugal, se ainda sou teu mapa
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