2 de janeiro de 2016

ESPAÇOTEMPO



Nei Duclós


Se houvesse um tempo como um jardim coberto
à beira do mar, ou na curva de uma aldeia
onde pudéssemos ir sempre que desse a gana
e ficasse perto, terreno baldio na vizinhança
e lá houvesse o que ver, insetos, flores

um livro aberto na página mais densa
uma pessoa amiga, um olhar ainda precoce
e árvores com bancos, e talvez confortos
que a modernidade apronta. Não importa
a época a qual cada detalhe pertence

mas a certeza de que ali estivesse a postos
o lugar que amamos, ou decidimos querer
contra todas as destemperanças
e fosse praça ou talvez um salão de baile
onde nossos rostos dividiriam o mesmo espaço

Se houvesse esse tempo, fora das agendas
onde o movimento em sintonia com o remanso
nos desse paz, daquela estirpe de sonho
quando o convívio entre adultos e infância
inventasse o mundo, costurado em sentimento

talvez tivéssemos então uma chance
de escapar desse circulo que parece eterno
de algemas com chaves jogadas longe
e que é pura ilusão, neblina sobre o vento
jogo de empurra, exausta fila de perdas

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