Nei Duclós
Quando os melhores se reúnem, o resto quer fazer parte do
grupo. É uma coisa de garotos, ser incluído num círculo autoconfiante, onde o
núcleo é formado pelo líder, o cara engraçado e o sujeito mais charmoso. Há
ainda o entorno, que varia de personagens, mas serve para reforçar o acordo da
amizade ou parceria. Tudo se relaciona com a ação imantada pela criatividade, o
humor e o fôlego, e doses maciças de vida, impulso que falta no espaço
doméstico de sufoco e necessidades. É mágico, nos anos que precedem a vida
adulta, romper com os vínculos do bom comportamento, num ensaio geral de
liberdade, a única coisa que vale a pena, e está acima das virtudes ou dos
vícios.
Há uma tendência para manter esse hábito de iniciação, mas o
clube da infância ou da mocidade emperra na imposição das responsabilidades e
rotinas quando se cruza a barreira dos vinte anos de idade. Duas saídas para
esse impasse podem ser o crime ou a arte. As máfias são exemplos do primeiro
item, onde a fidelidade é a obsessão mais evidente. E o Rat Pack está no item
seguinte, pois a gang de Sinatra, Martin e Sammy, que explodiu em Las Vegas nos
anos 1960 tem todos os elementos para um grupo de eleitos romper todos os
diques. Com pontos em comum do espetáculo com o crime organizados, como se sabe.
Como mostra Renzo Mora no livro 3 homens e nenhum segredo -Frank
Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr.,Casa das palavras, 118 pgs.),, pesquisado até o osso,
de uma América clássica, encantadora e pervertida, era irresistível participar
das reuniões, no palco, de elementos tão talentosos, vitrine de personalidades
que giraram em torno de um momento marcante da modernidade, quando a indústria
do espetáculo, o show bizz, a música e a política ralaram o couro numa
avalanche de talentos, performances inesquecíveis e tragédias. Colecionando
preciosidades garimpadas na imprensa e nos livros especializados, Renzo Mora
traça um roteiro esclarecedor sobre o que foi e o que significou o bando de
loucos reunidos sob o codino de pacote de ratos.
Desde as origens nos anos 1950, quando Humprhrey Bogart era
um dos elementos chave, sua evolução quando aportam em Las Vegas e a
transformam numa cidade Cult, até o desfecho não apenas de cada um dos
protagonistas, mas de toda uma era, Mora nos leva pela mão para mostrar o
quanto foi perdido a partir de então. Sofremos hoje de mediocridade compulsiva,
com as celebridades se esmerando em fazer besteira ruim, com todos os defeitos
e sem nenhuma qualidade. Renzo mostra como Sinatra podia estar errado em seu comportamento,
o quanto havia de baixaria na vida pessoal em bastidores bem pesados, mas não
faz juízo de valor nem vem com moralidades. Ao contrário, participa do jogo
para compreender, com a máxima transparência, o que move o gênio de pessoas
especiais e o quanto cedem aos seus limites humanos, ao mesmo tempo que os
transcendem.
Ao ler o livro, acabamos fazendo parte do grupo de Renzo
Mora, que inclui todos os seus grandes personagens, mais as pessoas que admira
e estão próximas a ele. Aplaudimos da plateia, aprendendo alguma coisa sobre os
tempos vividos. E para que o autor não me acuse de celebração excessiva, noto
que a edição poderia ser melhor cuidada, com o tipo de letra maior (não consigo
ler direito em corpo 6), um copy na reprodução dos textos (cortar as repetições
exaustivas ) e um formato mais tradicional, pois para quem tem manoplas o livro
escapa a toda hora e escorrega miseravelmente para o chão. Pronto.
Leia os livros do Sr. Renzo Mora. Para não perder seu tempo.
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