26 de agosto de 2015

A NATUREZA COMO FONTE DA NAÇÃO



Nei Duclós

No meu livro TUDO O QUE PISA DEIXA RASTRO (Edição do Autor, 161 pgs., R$ 30) natureza e nação se complementam em várias cenas da narrativa. A começar pela ligação profunda do casal Pedro e Leopoldina, exímios cavaleiros que viviam enfurnados nas matas ao redor do Rio de Janeiro. Com apoio, entre outras fontes,  de R. Walsh de Noticias do Brasil e Maria Graham em suas memórias, coloquei nas falas dos personagens várias descrições da fauna, da flora e do ambiente brasileiro. Há ainda a realidade do pampa visto por Dom Pedro II, pelo lanceiro Fabião e sua segunda esposa.



Um trecho importante é sobre o general holandês Dirk Van Hogendorp, conselheiro de D. Pedro I que se exilou num sitio do Corcovado no Rio depois de passar a vida lutando ao lado de Napoleão. Lá ele produzia alimentos que vendia no mercado. Há ainda a fuga de Denise pelos ermos no Brasil como combatente da coluna Prestes e sua luta pela sobrevivência em território abandonado e hostil. Os protagonistas assim circulam pela natureza em cada página no romance,  revelando aspectos do Brasil que foi à guerra envolvendo líderes e soldados que tinham grande intimidade com o ambiente natural.  

No século 19, o naturalismo fazia parte das políticas públicas do Império brasileiro. Era preciso conhecer a floresta para descobrir seus recursos naturais e encontrar a melhor forma de aproveitá-lo. Existia uma espécie de consciência ambiental, capitaneada por ilustres personagens como José Bonifácio de Andrada. O livro de José Augusto Pádua, “Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888). Jorge Zahar Editor, 2002” é uma fonte generosa de informações sobre essa realidade.

Segundo Pádua, as informações sobre a natureza brasileira começaram a ser divulgadas no início da colonização por viajantes, cronistas e religiosos, como Fernão Carim, Gavriel Soares de Souza e Pero Gandavo. Em 1801 o príncipe Dom João deu instruções para o aumento do Real Jardim Botânico pedindo a colaboração dos administradores da Bahia para a publicação de uma “Flora Completa e Geral do Brasil”. Em 1812, Dom João baixou uma determinação régia que estabelecia uma cadeira de história natural em todas as captais, destacando o ensino de conteúdos relacionados à botânica, zoologia, química e mineralogia.

As expedições para o interior do Brasil estimuladas pelo poder imperial, perdiam seu caráter militar ou geopolítico para se tornar cada vez mais “filosóficas”, isto é, científicas, voltadas para o conhecimento objetivo do que a terra expunha em todos os quadrantes da pátria. Merece destaque as viagens do biólogo George Freyreiss, do príncipe Maximiliano de Wied-Nuwied, a expedição Langsdorff e a chamada Missão Austriaca (1817 – 1820), com participação do médico e naturalista Carl Von Marttius e do zoólogo  palentólogo Johann Von Spix.

Um crítico ambiental do século 19 foi Antonio Moniz de Souza, que alertava: “Sem o reino vegetal nada existira sobre a terra”. Ele era conhecido como o Homem da Natureza Brasileira. Nasceu em 1782 na Bahia numa família de agricultores, tendo sido vaqueiro, capitão de ordenanças até entrar em contato com o grande naturalista frei José Mariano da Conceição Velloso. Fez várias viagens pelo interior do país com pequena ajuda de subscrições de quem o apoiava em seus estudos. Eram recursos escassos comparados às expedições estrangeiras, de alto custo.

Os viajantes estrangeiros interessados na nossa flora e fauna aqui aportaram sendo recebidos com pompa pelo império. Nem sempre se comportaram à altura dos seus hospedeiros, pois carregaram toneladas de exemplares sem dar retorno ao que o Brasil lhes proporcionou em apoio. Havia a tendência mística de ver na natureza o perfil da nação continente, o que faz parte dos vetores que a tradição impôs à ciência nascente do naturalismo e da ecologia. Nossos heróis catarinenses se desvincularam de todos esses apêndices, pois mergulharam fundo no aspecto cientifico de suas abordagens e isso é que lhes dá perenidade em suas obras.

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