4 de junho de 2013

MISTÉRIO PREGANDO PEÇAS



Nei Duclós

Pediste para ser minha mas me deixaste confuso. Pois fugiste ao primeiro gesto afirmativo. Quem te entende, mistério pregando peças?

Já sei onde te escondes. Na sombra que meu coração faz quando me deixas.

Tenho uma nova teoria do universo, disse ele. Se eu estiver nela está correta, disse ela.

Piso em ovos para te agradar. Mas quebras um de propósito.

Cansei de não te amar. Vou parar com isso.

Continuo querendo. Vislumbro amor, no tempo esplêndido.

Teu coração sempre esteve seco. Reguei inutilmente. Flores tardias talvez vinguem por insistência. Mas já estarei longe, passageira.

Amor a descoberto como cabelo molhado.Pegando o frio do inverno que começa. Teu rosto em meu pescoço doçura sem pressa.

Te dei carona a cavalo e fomos para campo aberto. Os cachorros se assanhara e despertaram as perdizes.

Amor é surra consentida. Quando me bates na barba que roçou o teu vestido.

Estava pensando longe quando me deste rasteira. Afocinhei na calçada do lugar que me escondia.

Foste e voltaste da Europa sem que eu tivesse sabido. Bateste em minha janela com a maior cara lambida.

Deste um tempo de mil horas e depois pergunta por que demorei.

Conflito é tua praia, xucra, rabo de arraia. Mas roço o braço na areia onde repousa tua pele.

Fritas no azeite quente a receita que te dei. Embrulhas para presente a prenda que esqueci.

Não jogo fora o que digo. Recolho no teu umbigo.

Coloco tudo o que penso. Existo mesmo que estresse.

Entendo perfeitamente. Digo sim batendo o ponto.

Não sinto nada. Sinto muito, disse ela. Serve, disse ele.

Deus falou diretamente comigo, mas esqueci, disse ele. Na próxima vez me leva como secretária, disse ela. Eu anoto depois troco contigo por beijos.

Dance, leia, mas não esqueça o beijo. Ele é a liga de todo o esquema.

Celebro a beleza, única eternidade. A que está exposta e a que escondes, flor do cascalho.

Passarei o dia a colher conchas. Mesmo com vento frio e velas que somem. Tenho a companhia das gaivotas, de olho no mar das sereias.

Passaste rapidamente. Quase consegui pegar uma porção de ar, mas era tarde. Já estavas no horizonte.

Deixas um rastro quando segues adiante. Faço um novelo de tuas andanças. Depois te ponho a fiar uma túnica de contos. Quero saber o que aprontas.


RETORNO - Imagem desta edição: Françoise Hardy.