21 de junho de 2013

PORQUE JUNHO DE 2013 É UMA REVOLUÇÃO



Nei Duclós

Os recursos massivos da informação nos livram de historiar os eventos que estão na cara de todos. O que nos cabe é ocupar um espaço de análise desvinculado dos olhos voltados para o passado e enxergar livremente o que está acontecendo nas ruas do país, na maior manifestação de todos os tempos entre nós. Para o dicionário Houaiss, revolução  é um "movimento de revolta contra um poder estabelecido, e que visa promover mudanças profundas nas instituições políticas, econômicas, culturais e morais". Bingo.


Militantes de partidos que tentam sequestrar o movimento hasteando suas bandeiras – como fizeram em outras ocasiões, como das Diretas Já, em que a multidão que pedia eleições foi forrada de vermelho – diziam que democracia é deixar também que eles carreguem seus signos. Foram impedidos para que fosse preservado o perfil e a essência do movimento que é simultâneo, apartidário, diverso, amplo e focado em reivnidicações básicas da população em áreas sensíveis como gestão pública, saúde, educação, transporte e segurança.

Ao contrário das passeatas tradicionais, que percorriam caminhos determinados e representavam nichos específicos de públicos – como estudantes, esquerda etc. – a Revolução de Junho de 2013 tem as características da internet: não tem foco definido e ocorre em vários pontos e de maneira crescente, envolvendo capitais e cidades médias e pequenas em praticamente todos os estados. Não está restrito, portanto, e expressa a vontade de mudança da maioria. Não por acaso, a frase mais citada é “Verás que um povo teu não foge a luta”, de Osório Duque Estrada em seu seminal poema fundador,no Hino Nacional.

Não há palavras de ordem ditadas por lideranças, já que cada pessoa pode expressar sua frase, como numa rede social. Comparo os cartazes postados individualmente como tuits, posts ao ar livre, expostos à visitação pública e esfregados na cara das instituições e seus governantes. Isso é realmente novo e é um dos itens que diferencia este movimento de outros do passado. A soma de mensagens focando os problemas nacionais, expressos de forma pacífica, se contrapõe aos grupos de desestabilização que agiram em quase todas as manifestações, ameaçando todo o clima original e dando munição para os críticos.

A reação se fará sentir em breve, pois Junho de 2013 provou que o povo não está dividido em nichos, como quer a publicidade, a política e a mídia. O povo é uno e indivisível e ao mesmo tempo, dialéticamente manifestado pelas inúmeras vontades individuais, combinados num foco principal de transformação do país. Enquanto lideres de nichos jogam centenas de milhares nas ruas para celebrar gêneros, religiões ou paixões esportivas, Junho de 2013 tem um rosto só, e ao mesmo tempo multifacetado pela fidelização à liberdade individual.

Só esse perfil dialético já dá ao movimento um lugar na História do país. Poderá ser traído, como os outros foram. Poderá sofrer retaliações, como certamente terá. Poderá gerar lideranças falsas, como aconteceu. Mas a semana em que o país parou para ver-se identificado em massas heterogêneas e ao mesmo tempo unidas pelo propósito de desfigurar a caratonha de mentiras que nos governam em muitos estamentos, fica como um divisor de águas.

Foi o tempo em que voltamos de novo a ser um país soberano.

RETORNO -  Imagem: Andre Ramon Flenik/Arquivo Pessoal.