Nei Duclós
Tenho cá meus sentimentos, como papéis na mesa. Ponho o peso
do amor para que não os leve o vento.
Mandas um bilhete sem endereço. Não queres que chegue. Mas o
Destino, mensageiro, corre para entregar, sem fôlego.
Disponho as palavras em bom comportamento. Penso nos
pósteros, não propensos a charadas.
Às vezes o amor não é a delicadeza. Mas o tombo que esfola a
pele e negas o curativo.
Não respondes o que escrevo em meu coração vermelho. Fechas
a janela sem motivo.
Alguém te deu um mau conselho.
É você que me sopra no ouvido. Enxergo poesia.
Amor é quando a flecha de Cupido inflama. E pulsa em febre,
pedindo cama.
Poema tardio que te pega dormindo. Fica ao relento, como
serenata colhida pela tempestade.
Te faço companhia. Ouço quando sonhas com a minha poesia.
És flor em meu caminho. Mais do que amigo, sintonia.
Driblas o assédio com tua argumentação de rede. Mas às vezes
te enrolas de propósito.
Vi do acampamento: todas as bóias do espinhel afundaram.
Eras tu no mergulho, puxando os anzóis do desejo.
Foges para respirar, sou a falta de oxigênio. Use o amor,
máscara contra o sufoco.
Cumpri a cota diária de dizer-te. Peço que venhas, mesmo que
não leias.
Tropeças no verbo, ficando sem defesa. É quando me jogo,
tobogã de versos.
Tudo pela tua boca de pêssego. O perigo por tua pele
sumarenta. Qualquer risco diante de tua imagem entre flores.
RETORNO - Imagem desta edição: Ava Gardner.