8 de junho de 2013

COSTA OESTE



Nei Duclós

O poema não leva a nada. Nade.

Dormes na costa oeste do meu corpo. Do leste vem meu olhar sobre teu trêmulo abandono.

Ao despertar note que estive absorto no que poderia te dizer no dia pleno. Mas fui vencido pelo sono, deus da noite alta.

Esqueceste o primeiro beijo. Um verso te lembra.

Jogo contigo as palavras mais doces. Elas nos envolvem como carícia impossível de existir em tanto extremo.

Não podes impedir que em mim se manifeste o ciclone. Nasci para acordar o mundo, lembrá-lo de quando era novo.

A nós foi vedado o privilégio do encontro. Por isso nos inventamos sopro, ruído de folhas ainda no broto.

No meio da noite teus olhos acordam para um lado oculto. É o teu sonho que decidiu ficar solto. Ele flutua sobre ti, no quarto.

Dizer adeus é fácil quando não é para valer. Mas de tanto treinar acaba acontecendo.

Voa, meu amor, voa. Pouse em mim, teu coração.

Não exija poesia de quem te oferece a vida. Não tem comparação. O poema é só um detalhe do coração.

Quando nos separamos, te deixei os versos, que hoje mofam nas paredes do teu choro.

A diferença é tudo. Teu rosto perfeito diante do urso.

Que a poesia te circunde como um sopro de luz. Estarei por perto, junto com os pássaros.

Amor toma tempo. Preste atenção no expediente. Não lembre a toda hora aquele mel escorrendo.

Me deixaste no chão quando te conheci. Mas não tem problema. Anotei a placa.

Apostei na poesia. Deu outro número, mas ganhei na loteria.

O Outro sou eu mesmo quando me escondo.

Vamos treinar para o fim de semana. Diga que me ama.

Já já te deixo sem resposta. Só estou esperando a tua pergunta.

Vamos dançar? disse ele. Depois não se queixe, disse ela.

Essa cantada em verso cansou. Não regrida à prosa. Evite o karaokê. Silêncio também não cola. A única coisa que funciona é tirá-la para dançar. Tente.

Não deixo mais verso na tua porta. O vento leva antes que saias para fora.

Privilégio é saber-te minha, pelo menos no instante em que me adivinhas, quando lês nas entrelinhas, fada de seda.

Você é maior do que imagina. A poesia enxerga e me segreda no ouvido.

Navegas nos poemas com teu corpo de vidro. Vejo tudo, transparência divina.

Luar é o que fica depois da noite alta. Vira lixo de brilhos varrido pelo teu sono tardio.

Não posso dizer tudo. Farejas meu lado oculto


RETORNO - Imagem desta edição: Jennifer Lawrence.