21 de junho de 2010

O BRASIL NÃO FICA NA ÁFRICA


Vejo entrevistas de “afro-brasileiros” dizendo que vão ficar em dúvida se houver uma final entre nós e um time de país africano. Imagino que o espetáculo de brutalidades exposto pelo time da Costa de Marfim neste domingo tenha deixado claro, para quem ainda acredita em “sangue” como definidora de povos, e não em nacionalidade, que o Brasil não é da nem fica na África e nem em outro lugar remoto. E sim onde se situa, geográfica, social e politicamente, em berço esplêndido, isto é, para sempre, graças à sua soberania consolidada. Não é feito de caucasianos ou asiáticos e também não faz parte da Latinoamérica, “a pátria grande”, como dizem os pseudo, essa ilusão de fala hispânica de poncho e conga.

Da mesma forma deve ter ficado claro para jogadores de países africanos que eles não nasceram pelés, só pela cor da pele, já que Pelé não é de país africano, é brasileiro, assim como Obama veio de Harvard e não do Quênia. Perdendo, com algumas exceções, jogos sem parar, devem ter acordado mais uma vez para a realidade: que futebol não é direito adquirido nem serve para fazer uma espécie de justiça social. Não significa que o jogo seja “uma caixinha de surpresas”, como quer a crônica esportiva recorrente e viciada na mesmice, mas um jogo exercido por espíritos livres e, portanto, sujeito aos princípios humanos e não aos preconceitos, análises supérfluas, ódios em geral e soberba, principalmente da mídia, de algumas estrelas e dos organizadores desta copa de desastres.

O Brasil mostrou a que veio no primeiro minuto do jogo contra a Costa do Marfim, tido como um dos bicho papões da chave, assim como a eterna Fúria espanhola, sempre dando com os burros nágua e voltando em cada Copa com a mesma pose. Todos se quebram pelas quebradas da vida, mas chegam campeones del mundo nas Copas, como é o caso dos argentinos, que se classificaram de calça na mão e como sempre posam com a mão na taça antes de provarem o gosto da grama no céu da boca. Nossos jogadores avançaram sobre os adversários com aquela aparente facilidade que confunde tanto os críticos, pois a idéia é que não precisamos fazer esforço para ganhar e por isso somos eternamente condenados às vitórias e só o Dunga não deixa, ou não deixava.

Chegou a hora de virar a biruta das críticas. Depois de achincalharem o capitão e lançarem todo tipo de praga para que ele se desse mal, eis que o time que ele montou em quatro anos continua vencendo e joga o fino, se superando diante de tantas burrices impostas no torneio internacional, como a bola americana fabricada na China e com nome africano, que foi feita para destruir o futebol e transformar todo mundo em peladeiro. Enquanto a seleção francesa se esgarça em derrotas e brigas, o selecionado canarinho se firma na competição e nos deslumbra com um jogo limpo, objetivo, forte, expressando a arte renascentista no futebol por parte de um país com vocação para a grandeza.

Não canso de ver confirmado na prática o que digo ao longo dos confrontos. Enquanto berravam por Neymar ou Ganso, enquanto sofriam pela ausência de Ronaldinho Gaúcho, a seleção de Elano e cia. chegou para enfrentar a barra pesada dos adversários que não se conformam em perder quando enfrentam o pentacampeão do mundo. Já disse aqui que a seleção não pertence ao Dunga ou à CBF, mas à nação e à sua luta secular para ser o que é, o impávido colosso. Há um pânico generalizado diante do amor pelo Brasil, porque essa ojeriza foi implantada de maneira torpe em quase 50 anos de ditadura, desde 1964.

As patriotadas e o cinismo dos falsos patriotas tentaram roubar do povo o amor à camisa, mas não conseguiram. Amamos o Brasil não por motivos condoreiros ou bateções inúteis no peito, mas porque esta nação é nossa única chance de sobrevivência. Não queremos ser palestinos nem curdos, povos sem país. Queremos ser o que somos: brasileiros com cinco estrelas no peito.

Cinco, por enquanto. Se não for na África, em outro lugar será. Ninguém impede o gigante de cumprir o seu destino.

RETORNO - Dunga não permite que Fátima Bernardes e equipe façam matéria exclusiva na concentração. Ontem, fechou o tempo. Entenda a briga Dunga x Rede Globo. O motivo está aqui Atualização: tem mais detalhes aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário