29 de novembro de 2007

MANDATO ETERNO


Estão fazendo tudo o que acusaram em Getúlio Vargas: o de ser demagogo, enganando o povo; o de ser censor, amordaçando a imprensa, o de ser ditador, torcendo tudo a seu favor. Vemos a demagogia campeando na mídia comprada pelo marketing político (fachada de lavagem de dinheiro público, segundo acusações) e pelo merchandising, que é a publicidade perversa, embutida no conteúdo de programas culturais e noticiosos. Vemos a censura com o envolvimento societário dos políticos em veículos de comunicação (um terço do Senado, segundo levantamento recente), a indústria dos dossiês, a superficialidade das coberturas, a manipulação dos conteúdos e o esvaziamento das redações, com honrosas exceções.

E vemos a ditadura se manifestar de todas as maneiras: no sistema político engessado, na chuva de medidas provisórias, na política econômica que expropria o povo, na entrega da soberania via política de privatizações (agora privatizaram a o que resta da selva), na reeleição de FHC e agora na ameaça do terceiro mandato de Lula, que não passa de golpe de estado.

Lula quer se eternizar no poder. O político uruguaianense Brasil Carús colocou o dedo na ferida, na sua coluna no Portaluruguaiana: “O presidente Lula comparou a tentativa de Hugo Chávez de permanecer no poder, indefinidamente, com a permanência à frente de governos de figuras como o alemão Helmut Khol (de 1982 a 1998), a inglesa Margareth Thatcher (1979 a 1990), o espanhol Felipe Gonzalez (1982 a 1996) e o francês François Mitterand (presidente por 14 anos, com dois mandatos de sete anos). Em todos os casos citados por Lula, quem ficou no poder por tanto tempo foi o partido político, pela escolha do eleitorado, e não o político, que somente permaneceu no cargo de primeiro-ministro enquanto seu partido o reconhecia como líder. E não foi preciso mudar a Constituição para isso.”

Continua Carús: “A diferença entre parlamentarismo e presidencialismo seria fácil de explicar com a hipótese brasileira. Se fôssemos um governo parlamentarista, Lula teria caído no primeiro mandato, quando seu governo se envolveu com o escândalo do mensalão. Como somos presidencialistas, regime onde o Executivo tem muita força, Lula teve tempo de recuperar sua imagem e se reeleger, graças à popularidade pessoal. E agora começa a preparar a opinião pública para o seu terceiro mandato”.

Lula não quer outra vida. Viaja num avião milionário, leva a vida de um milionário, tem a pose de milionário, fazendo pouco do que os outros dizem e achando que leva todo mundo na conversa. Sua esperteza faz com que acreditem na pretensa perseguição por parte da imprensa, quando acontece exatamente o contrário, já que o governo federal é o maior anunciante da comunicação. Como contrariar o cliente?

Vejam o caso do IDH, Índice de Desenvolvimento Humano. O Brasil caiu no ranking, mas foi anunciado que melhoramos, só que as outras nações subiram. Ora, um ranking é, basiacamente, comparação. Se as outras nações subiram e nós descemos, algo estamos fazendo de errado. Não melhoramos, mas foi anunciado exatamente o contrário.

A toda hora, é difundida a mentira de que a renda está sendo melhor distribuída, quando existe mesmo é um sucateamento da classe média e uma ascensão social de uma parte da população da classe C, que continua lá, na classe C, mas com alguma capacidade a mais de consumo. Enquanto isso, todo mundo é refém da violência, das ruínas urbanas, da falta de paz na cidade e no campo, na falta de infra-estrutura. Não falam mais em desemprego e dívida externa. A propaganda enterrou esses dois assuntos.

Para que um terceiro mandato? Para manter o nível de vida, para não descer na escala social, para não voltar à classe média, o que eu duvido, depois de ficar com as duas patas no cofre por tanto tempo. Para manter o nível de vida também dos parceiros, da canalha denunciada pela Justiça de maneira tão explícita e veemente. Para isso o terceiro mandato. Para se perpetuar no poder e impedir eternamente que o Brasil Soberano reencontre seu destino.

Em 1923, estourou uma guerra no Rio Grande do Sul porque Borges de Medeiros, que era o presidente do Estado, queria um quinto mandato. A guerra durou oito meses e ensanguentou o pampa.

RETORNO - Imagem de hoje: crepúsculo no rio Uruguai, foto de Anderson Petroceli.

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