23 de outubro de 2006

NO LUGAR DE PROPOSTAS, PESQUISAS





O eleitor não se orienta por propostas, mas por pesquisas. A pesquisa transforma cada eleitor num pseudo-estadista, repassa um poder que ele não tem. É como jogar Monopólio ou vídeo game. Aparentemente, você está no comando, mas quem criou o jogo e o colocou perto da sua mão é quem dá as cartas. Mas fica a impressão de que podemos decidir quem vai ganhar. Não vou votar nesse que fala em educação, pois vai perder. Nesse que não tem chance, nem chego perto. Vou votar contra ou a favor de fulano, que tem xis intenções de votos. Votando em quem tem mais valor na pesquisa (que agrega falsos valores aos candidatos), também o eleitor se sente valorizado. Ele está aderindo a um voto que tem toda chance de ser vencedor. Ninguém quer ser perdedor, ficar na rabeira da votação. A pesquisa escolhe quem fica ou quem está no páreo. Normalmente funciona.

VENENOS - Nas pesquisas mais perto da data da votação, as intenções de voto já estão contaminadas pelos resultados anteriores. Então as pessoas consultadas se voltam para quem está nos primeiros lugares. A pesquisa se retroalimenta, usando o pesquisado como insumo. Isso tudo é uma fraude, mas é como os venenos de última geração, que não deixam pistas. Parece não haver crime, pois a amostra é real, as respostas são respeitadas e a totalização é legítima. Mas como a pesquisa é um esquema de manipulação de voto, o certo seria proibir esse tipo de sacanagem e colocar na cadeia quem furar o bloqueio. Imaginem uma grande votação sem pesquisa. As pessoas, a princípio, ficarão desorientadas. Quem está na frente, em quem preciso votar para ser também um vencedor? Seria uma revolução. Primeiro, proibir pesquisa. Segundo, liberar o voto, ou seja, não obrigar ninguém a votar. Aí sim teríamos democracia.

COLUNISTAS - O que impressiona é como os jornalistas adoram pesquisas. A explicação é simples: não temos jornalismo, o que há é marketing sob todas as formas e disfarces. Como não há jornalismo, há certezas graníticas sobre tudo. É só ler os colunistas. São peremptórios em tudo o que dizem. Sabem tudo, decifram tudo, sacam todas. Não têm dúvidas. A pesquisa nesse ambiente é uma espécie de lei. Dão de barato que a pesquisa é rainha e fazem todos os comentários em cima disso. Ou seja, ajudam a alimentar o monstro, que já vem com a pança cheia da origem. E não adianta se insurgir contra a pesquisa, ela tem credibilidade pelas razões que expus acima. É preciso se insurgir contra o mal que ela faz ao eleitor. Por ser uma espécie de bíblia das eleições, ela acaba gerando um fundamentalismo. Pois deveriam parar com isso. Como parar com isso se são tão poderosos? Também não adianta criar outros institutos de pesquisas, todos vão repetir o mesmo erro, o de influir nos resultados. Portanto, cut!

TRISTEZA - A campanha eleitoral é de uma pobreza infinita, entristece o país continente que já foi soberano. Falam em educação-saúde com um desplante assustador. Falam em gerar emprego! Governo não gera emprego, apenas emprego público. Emprego é gerado pelos cidadãos, incentivados por políticas públicas. Governo pode gerar emprego em rede para a massa de servidores que estiverem lotados numa infra-estrutura decente, um sistema ferroviário, saneamento, construção civil etc Mas jamais deveria ser dito que é o governo que gera emprego, isso confunde a opinião pública. Nem que gera rendas. Quem gera renda é a cidadania tungada de seus direitos, arrochada por um esquema draconiano de arrecadação de impostos. O governo pode incentivar a distribuição de renda por meio de uma gestão política eficiente. São coisas básicas, que contrariam o atual bacanal de dossiês e contra-dossiês. Vi jornais dominicais ontem. São toneladas de papel sobre a campanha política. Quem se importa? O voto já está decidido pelas pesquisas.

RETORNO - Imagem de hoje: Avenida Roberto Marinho, em Sampa, de Marcelo Min.

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