1 de outubro de 2006

A DITADURA FAZ OS VOTOS, MAS OS ELEITORES ESTÃO VIVOS





O voto não foi para trazer o tucanato de volta ao poder, o voto foi anti-Lula. As pesquisas manipuladas queriam forçar uma vitória já no primeiro turno (quanto isso custo de dinheiro público?) mas as urnas reagiram: fora Lula, esse arrogante traidor. No segundo turno, dia 29 de outubro, espero ganhar um presente de aniversário: o fim do PT no poder central, a expulsão dessa pústula do Planalto. O rescaldo será brabo: tucanos sorridentes. Mas um leão de cada vez. Essa é a ditadura em que estamos, muito pior do que a república café com leite. Eles se revezam para entregar o país. Enquanto isso, Cristóvão Buarque, que acreditava ter um por cento, quase teve três por cento. Menos da metade de votos brancos e nulos, mas bem mais do que seu espírito derrotista esperava. Se fizesse um pouco de força, se o trabalhismo tivesse um candidato melhor, a parada iria ser dura. Mas somos reféns do sistemão ditatorial e das pesquisas manipuladas. Yeda Crusius "supreende". Frossard chega lá. Wagner da Bahia está na parada. Nada disso foi previsto pelas pesquisas, que precisam ser eliminadas da vida eleitoral. Foi divertido ver a cara dos apresentadores, aos solavancos de "puxa, puxa", tentando explicar o berro dos eleitores.

PASTORES - A notoriedade, o apadrinhamento, o curral eleitoral definem o perfil das apurações dos votos do sistema ditatorial que nos governa. Segundo leio na Folha On-line, teremos um Congresso com filhos de políticos, mães de artistas, ex-costureiros e jamantas anti-diluvianas. O carnaval de horrores revelado pelas urnas mostra a que o país foi reduzido quando o Faustão vira catequista, o pastor compra uma rede de televisão, outro pastor ocupa o horário nobre e o fio dental sacode a celulite em inúmeros programas de auditório. Como milhões de pessoas votaram em branco, nulo ou simplesmente não compareceram (em 2002 foram 30 milhões), as minorias impõem suas patas sobre a nação pisoteada. Basta uma fagulha para o campo seco arder. Basta um desmoronamento para toda a barragem ceder. Basta um tiro para desencadear a avalanche. Quando a coisa feder, dirão, ué, por quê? Ia tudo tão bem! Falta, como sempre, gente decidida para fazer acontecer. O que temos é a bandidagem armada, o sistema de opressão oficial e uma população sufocada. Mas a chance virá e disso cuida a História, que sempre prepara a Tocaia.

GARIBALDI - Traduzindo texto de Friederich Engels do francês, Ida Duclós nos revela, no blog Nada a ver o assombroso feito de Garibaldi, que com um punhado de bravos, um pouco mais de mil homens, tomou Palermo e tirou a Sicilia dos invasores austríacos: "Numa ação fulminante, vindo de Gênova só com dois barcos, desembarcando de surpresa na Sicília no dia 10 maio de 1860, Garibaldi tomou Palermo. Dali, voltando à península através do estreito de Messina, marchou até Nápoles que se rendeu em sete de setembro de 1860. Com apenas 1.400 homens Garibaldi superara um exército de mais de 20 mil soldados, tal o entusiasmo patriótico que ele despertava na população que pegava em armas por onde o condottieri passava". No dvd, vejo filme Frida, que a atriz Salma Hayek fez acontecer depois de muitos anos de insistência. É também sobre bravura. A pintora, que foi praticamente aniquilada num acidente da juventude, enfrentou as dificuldades com sua gana e sua arte. Belo filme, que nos traz o clima dos anos 20 aos anos 40, quando havia gente de verdade, fruto de leituras, e não dessa palhaçada imposta pela televisão e pelo sucateamento das nações.

VENENO - Atravesso fase de envenanamento espiritual pelos contratempos que enfrentei semana passada, quando uma situação que se repete ciclamente mais uma vez mostrou as garras. Os aproveitadores surgem quando o prestígio mostra a cara, graças ao trabalho desenvolvido por toda uma equipe. Então vem alguém e tenta dar uma rasteira. O que chateia é o olhar lânguido, frases como "mas não leve para o lado pessoal". Como se fosse possível. É que o mundo é de não-pessoas, então você tem que aprender a robotizar tudo e fingir que és um processo, um sistema sem carne nem osso nem coração ou cérebro. Você é uma fala corporativa, se te deixarem ser pelo menos isso. Pois se não és uma fala corporativa, então não és nada. Jornalista, escritor, não existem. O que existem são caricaturas, pseudo-gente, a ganhar votos de roldão dos não-eleitores, os que protestam votando em quem não tem importância, para que a ditadura se toque. Mas a ditadura, claro, não se toca. Até que em algum momento, algo explode dentro de nós. Aí será tarde demais.

RETORNO - Imagem de hoje: Salma Hayek em Frida, foi indicada ao Oscar. Deveria ter ganho a parada.

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