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De repente, a saga dos tropeiros é resgatada por três caminhos. Primeiro, pelo melhor programa da televisão brasileira, o Globo Rural (ah, se todos fossem iguais a você). O que encanta nas manhãs de domingo quando vemos este decano trabalho de competentes jornalistas, não é apenas o assunto e sua diversidade, mas a lição que expõe para os seus pares, que infelizmente não seguem os princípios e fundamentos ali apresentados. Não há, por exemplo, jornalismo de breque - aquelas materinhas pseudo-humanas em que o repórter tenta fazer suspense antes de terminar as frases (dá uma paradinha e olha firme como se você fosse um idiota).
Ao contrário: Globo Rural é didático sem ser piegas ou arrogante. E sem ser forçado, jamais deixa de ser simpático, ou melhor, anfitrião, à moda dos moradores do interior que te recebem com alegria. Informa sem querer montar um circo, e diverte sem se fazer de engraçadinho, como acontece com tantos noticiários. E coloca tudo o que é importante do setor sem propor sustos ou advertências. Pois bem: a série de reportagens da equipe (a primeira foi com o magnífico José Hamilton Ribeiro) pega desde as raízes da aventura dos tropeiros, na Argentina, e seguirá, com uma expedição especialmente formada, até Sorocaba.
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A diferença de Bira Tuxo em relação ao programa e ao livro de Jackzam e Werner, é que "Pampa em 23" foca na guerra o quadro de formação da nacionalidade no sul do País. O que fica mais ou menos intocado no Globo Rural e no Aventura (nem poderia ser diferente, pois os propósitos são diversos) é a complexidade da luta que definiu a História. Nem gostaria de adiantar muito, por enquanto, o que encerra o romance de Bira Tuxo, pois tenho me dedicado a ele a maior parte do tempo e o resultado sairá ainda nos próximos dias. Mas nele podemos aprender, entre muitas coisas, a independência e ao mesmo tempo a submissão das ações do pampa em relação aos países coloniais. O romance coloca o dedo na ferida e expõe fatos surpreendentes sobre uma série de acontecimentos, especialmente sobre a luta guaranítica, que foi abordada superficialmente neste domingo no Globo Rural no depoimento de um índio guarani diante do monumento ao herói Sepé. Na TV, a tropeada começa na Argentina e seu link com as minas de Prata de Potosi. No romance, a tropeada tem um foco mais de América Portuguesa, mas em ambos está destacado o papel da Colônia do Sacramento, aquela porção de terra que poderia ser brasileira hoje.
E assim, ao correr do teclado, misturo (guardando as respectivas diferenças) leituras e sessões matinais de TV, quando a coragem dos tropeiros, sua vida dura e cheia de lições, assomam na percepção como um fundamento nesta época de tantas incertezas. Tudo é incerto, inclusive as versões sobre nosso passado. Mas o que não deve encerrar dúvidas é a nossa vocação para a nacionalidade, a importância de termos um país e vermos nele o que há de grandeza e permanência.
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