26 de julho de 2006

PRIMEIROS PASSOS DA NOVA VIAGEM





Nei Duclós

Estes três poemas inauguram meu livro ainda inédito, Partimos de Manhã , que é dividido em três capítulos: Liberdade, resgate da viagem inaugural de um sonho compartilhado; Terra, a busca da identidade temporariamente perdida; e Paz, um canto em homenagem ao sacrifício da boa vontade em confronto com a barbárie. O livro foi enviado, a pedido, para uma editora e aguarda a decisão há mais de um ano.

PARTIMOS DE MANHÃ

Partimos de manhã
quando a lua, sol
noturno, jogava sal
sobre a neblina

O passo trazia
a luz pelo punho
A surda cidade
recompunha-se

A rua recolhia
o lixo da fuga
A ponte puxava
a dor para o abismo

O lábio da bruma
espumava na mansa
loucura. A estrada
prometia o rumo

O frio tocava sino
O sangue emboscava
o medo. A infância
fazia um filho

O susto virava sorte
O destino abria um túnel
A mochila dava adeus
ao exílio

LETRA

Talvez
escrevendo
alguma coisa amanheça

Talvez
o poema
desperte o pássaro

Talvez
a palavra
te incendeie

Talvez
a sílaba
grite

Talvez
a letra
crua

Talvez
soletrando
amor
a noite se despeça

NA MADRUGADA

No primeiro vento
o tempo cobriu
o espelho

O raio comeu
a cama do som
noturno

O mistério calou
teu corpo ainda
úmido

O amor gelou
a parte mais funda
do forro

Ouvimos um baque
no escuro. Uma estrela
pediu socorro

RETORNO - 1. A edição de hoje reproduz minha colaboração semanal no espaço Literário do Comunique-se. Ela recebeu o seguinte comentário de Urariano Mota: "Chego primeiro, mas não sou nem serei o único. Letra é um poema que vou copiar e transmitir como se fosse escrito por mim. É como um princípio de fé na literatura. Não é bem como se fosse. É mesmo um princípio de prática e fé. Aquela fé religiosa, que perdemos, e que substituímos pelo amor à literatura". Na edição da semana passada, publiquei três poemas sobre poesia (Um poema por ano, Idade da pólvora e Limpar o poema). O importante ensaista e escritor de primeira água, Luís Antônio Giron, também editor da revista Época, disse o seguinte no espaço dos comentários: "Estava com saudades dos poemas sintéticos de Nei Duclós, que leio desde os anos 70. Para mim são letras de músicas cujo compositor ainda está para existir. Estes metapoemas calam fundo em quem vive para escrever e escreve para viver, como nós, jornalistas, companheiros e inimigos na vitória e na falência".2. A imagem de hoje é um clássico por-de-sol de Anderson Petroceli.

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