
Há uma reação cada vez mais intensa contra a babaquice da chamada indústria do entretenimento, braço ideológico da era Bush. A idiotia reinante é a retaliação ao que de melhor se fez nas décadas anteriores. Veio em forma de roteiros robôs, clonados e multiplicados ao infinito. E da destruição do trabalho autoral dos cineastas, que hoje são apenas funcionários de megaproduções (pessoas como Roman Polanski e Woody Allen são exceções; mesmo que o primeiro também faça parte de altos esquemas, ainda consegue imprimir sua marca neles). Todos hoje podem adivinhar o desdobramento de um filme a partir dos seus momentos iniciais, mas isso não goza mais da mesma impunidade de anos atrás.
Não que Hollywood volte aos tempos em que contratava escritores de verdade para roteirizar seus filmes em série, como Faulkner, Brecht, John Fante (que jamais ficavam satisfeitos com o resultado). Hoje o roteirista é um free-lance, que usa um esquema fatal para concretizar seu trabalho: envia o roteiro para os atores consagrados, e também diretores com passado autoral, que caem como loucos nas boas histórias, especialmente as que fogem da padronização e da celebração dos crimes do Império. Mas há um perigo: não se pode dar bandeira, fazer oposição descarada, já que cinema sempre foi uma atividade estratégica, monitorada pelo macartismo vencedor.
Então se fazem grandes roteiros, que geram filmes importantes, mas o making off acaba jogando areia nos olhos de todo mundo, pois é importante preservar o espírito americaninho de ser, não dar sopa diante das ameaças da criminalidade imperial. No máximo, esse tipo de filme, que tem exemplos notórios especialmente de 2002 para cá, faz denúncias pesadas às pressões que a cidadania não consegue mais suportar. O contraponto é apostar na imagem original do estado americano, capaz de gerar justiça, o que às vezes produz um happy end (precário, mas feliz).




O cinema americano está vivo, apesar de tudo. É possível encontrar nas locadoras filmes desafiadores. Mesmo exibindo a bandeira estrelada em quase todas as cenas (parece que é obrigatório), nos faz ter alguma esperança. Talvez estejamos todos fartos dessa guerra sem fim. Talvez o atual presidente caia por seus erros e que o próximo seja alguém gerado no coração desse movimento de libertação das velhas fórmulas. Isso lá é possível? Sempre que a esperança dá um aceno, precisamos responder. Alô, esperança, você diz alô e eu não digo adeus. Cante comigo.
RETORNO - Imagem principal: Frank Sinatra e Lawrence Harvey no clássico de 1962, The Mandchurian candidate (Sob o domínio do mal). As contradições da América sob a paranóia total geram filmes poderosos, mesmo que mantenham ligações profundas com o Império anti-cidadania. Nas imagens menores, Damon e Clooney em "Syriana", Nicholas Cage em "O Senhor das Armas", Ben Affleck e Samuel L. Jackson em "Fora de Controle" e Merryl Streep em "Sob o domínio do mal" .
Nenhum comentário:
Postar um comentário