11 de julho de 2006

A MODA ANTI-CLERICAL



A Igreja Católica é o saco de pancada do mundo. Inquisição! é o sólido argumento contra qualquer gesto da instituição. Se você insistir, invocam Pio XII e suas bênçãos às tropas de Mussolini (Chamberlain também abençoou Hitler antes que o ditador invadisse a Polônia, mas ninguém fala mal dos ingleses). Mais um pouco e se ressuscita o ódio eterno do catolicismo aos judeus, o que já está fora de cogitação, mas não para muita gente. E mais recentemente, a pedofilia. A escolha do cardeal Ratzinger piorou as coisas. Há um consenso granítico de que a Igreja não é de confiança e sob essa sombra medram outras religiões, como os evangélicos, que tomam conta de tudo, os budistas e seu carisma de correção e contrição e, de quebra, os muçulmanos, que aos poucos cobrem a cabeça das mulheres nas ruas do Brasil.

CURA - Fica o ressentimento contra o catolicismo, alimentado pelo cinema, principalmente. Você vê Brava Gente, de Lucia Murat, e lá está o Sergio Mamberti como cura da aldeia todo pelado sendo castigado por gargalhantes guaicurus. Você vê Munique, de Spielberg e lá está a família católica disseminando o Mal. Você vê Mar adentro, do espanhol Alejandro Amenábar e pronto, o cara que quer morrer discute com um padre que pretende tirar essa idéia da sua cabeça. O suicida então ataca o catolicismo com o argumento definitivo, Inquisição, Inquisição! Quem é a Igreja para cobrar respeito à vida? A Igreja, via Paulo II, já pediu perdão pelas fogueiras. Seria o mesmo do que acusar Alejandro, um espanhol, de ter destruído os índios da América do Sul, e não vi nenhuma vez o cineasta pedir perdão por esse crime. Desculpa aí, indiada, foi mal.

POSIÇÕES - Nestas férias, as visitas ao Diário da Fonte escassearam. Há uma fuga vagarosa, mas firme e imagino que sejam as posições que defendo, a começar por Pedro Simon, que teria afugentado meus leitores do Rio de Janeiro, que definitivamente não gostam do Garotinho. Defender Parreira e a seleção também deve ter colaborado com isso. Ficar a favor da Igreja Católica não vai melhorar as coisas. Também tenho me afastado da poesia, o que incomoda, pois vejo que muitas pessoas lêem este espaço em busca do poético e não das minhas posições. As histórias curtas, todas sobre violência, não colaboram em nada. No Comunique-se, o retorno é praticamente zero quando publico conto. Mas continuo insistindo. O conto, as posições, a teimosia em temas e idéias, continuam por aqui, com ou sem aceitação. Fiéis leitores têm colaborado com belos comentários. Às vezes o retorno me surpreende, como foi o caso de Flavio Lago, que se identificou com o estranho personagem Írio, que fez um gesto de coragem e foi punido por isso. Escreveu Flavio: " Alô Nei. Fazem dias que leio os seus comentários e preferi ficar no silêncio. Finalmente este conto me tocou o coração. Me transportou para outros lugares onde andei e presenciei injustiças. Quando estive no Afeganistan, e Bosnia fui deparado com questões morais, que tive que tomar uma posiçãoo que nao eram populares. Lendo este conto fico contente por ter feito o que era certo.Obrigado. Flavio Lago | 07.06.06 - 6:19 pm "

FILMES - Continuo vendo um filme atrás do outro. A morte no cinema espanhol mexe com todo mundo. O Sétimo dia, de Carlos Saura, é um petardo. Filme impressionante, sobre o rancor no interior do país, numa aldeia em que dois velhos se tornam serial killers. Toda a seqüência do massacre já nasceu um clássico do cinema de extermínio, a que me referi aqui. E a cor, a paisagem, os personagens, a narrativa, tudo é fortíssimo neste filme de Saura, com presenças violentas como a de Victoria Abril, atriz de primeira grandeza, que compõe um perfil de ira e demência como poucas vezes vi no cinema. Mar adentro, também espanhol e também sobre a morte, emociona e incomoda. Brava gente, de Lucia Murat, apesar da pobreza de recursos, que pesa na produção e no resultado final, é interessante, mas nem chega aos pés do seu Quase dois irmãos, que já comentei aqui.

RETORNO - Imagem de hoje: o ator Juan Diego no filme O Sétimo Dia, de Carlos Saura.

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