Nei Duclós
Minha mãe se foi cedo, aos 62
Para mim, que hoje sou dez anos mais velho
ela era uma anciã, de lentes grossas devido à catarata
E ficava em pé cada vez mais frágil
Nunca vi minha mãe correndo
Andava devagar e a tudo observava
Parada e só como árvore isolada no pampa
Criou sete filhos, sendo quatro marmanjos que lhe deram trabalho
e cada um jura que era o favorito
Levava as gurias para os bailes e a todos encaminhava nos estudos
Lecionava multidões de alunos que iam dividir o café da tarde conosco
Só sei até o ginásio, dizia
E isso bastava
Tecia puloveres com mangas enormes pois cresciamos e a lã durava mais de um inverno
Decifrava charadas dos jornais usando dicionário Lello
E foi a primeira leitora das minhas poesias
Aos dez anos eu já era um intelectual e dizia para ela
Fiz um poema mas acho que tu não vai entender
Ela achava a maior graça e contava para as amigas
Foi assim que eu não sendo nada virei coisa
Pela mão de quem representava a divindade na terra
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