Nei Duclós
Somos feitos
das mesmas ideias geradas em outro mundo. Dos mesmos ideais que não resistiram
ao tempo. Dos mesmos sonhos que hoje atrapalham a visão.
Somos feitos
de materiais que foram substituídos, mas mantemos a cabeça no sótão da memória.
Nem o sol nos desperta, nem o vento arranca nosso telhado.
Somos a
ruína de individualidades de vidro que se imaginam de aço. A inocência nos toca
novamente quando abandonamos os embrulhos para o apetite da tempestade.
Voltamos
então a perceber o que estava oculto, o ninho de onde brotou tanto equívoco. O
território do intocado, o abraço mais profundo. O motor que inventa o mecanismo
da semente.
A que nos
propomos depois dessa redescoberta? Poderemos evitar o que nos deixou ao
relento? Ou desta vez ficaremos lá, no ovo do eterno silêncio? Deixaremos que a
divindade se perca em nós, como num labirinto? Ou iremos, como sempre,
colecionar mais perdas?
Sopra, arte
imensa.
RETORNO - Imagem desta edição: cena do filme Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman.
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