Nei Duclós
Tocar o silêncio como um instrumento. Afinado no diapasão do
poema.
Só o que vale é o sentimento. Barco ao luar, vela ao vento.
Só uma arte é possível: o amor, fonte do nobre ofício.
Fazíamos confidências. Depois, viajamos um do outro.
A toalha branca da nuvem na mesa azul do dia claro.
É cedo para o poema. Estamos habituados a palavras que
envenenam. Por isso o sol espera que nossa canção emerja. Sonora planície de
coração a pleno.
Não somos ninguém, passageiros do tempo. Fica algo que não
se sustenta. Os pássaros são assim. Voam sem deixar rastro.
Alguém já escreveu a carta que te mando. Talvez eu mesmo
numa época de esperança
O desejo é de foro íntimo. Não te vejo, não te enxergo. Não
noto teu ombro beijado pelos cabelos. Nem teu rosto sereno de olhar
transparente. Fico distante, reduzido ao que sou, solidão sem remédio.
O pássaro é um cisco no azul.
Ei este poema está vencido, disse a cliente. Nasceu assim,
disse o poeta.
Pele escorregadia em roçado sem capricho. Nossa diferença é
o nicho do Paraíso.
Reclamas da minha ausência, mas nunca estive distante. Sou o
pássaro invisível no teu ombro.
Basta um alô para o dia multiplicar-se em doçura. Ouço o
roçar de pernas na branca areia do delírio.
Passo a maior parte do tempo lembrando o que fantasiei
contigo. O amor é memória quando o tempo impede o convívio.
Lancei o verbo isca. Em vez de beliscar, me fisgas
Já descobrimos tudo. Agora quero ver sonhar longe do
mistério.
Diga num só verso o que desperdiçaste em perdas. Reduza-se à
letra que se apaga. Coloque os símbolos na gaveta. E escute a estrela que vem
em direção à terra.
Tua extrema beleza é meu desassossego. Brigo com o tempo mau
que te cerca de perigos. Pouse em mim, pássara concebida pelos deuses.
- Homem não chora, capitão? perguntou a visitante.
- Só quando uma lembrança se impõe no toque de silêncio,
disse Jack o Marujo.
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