Nei Duclós
Saudade é quando o tempo se apaixona.
Acerto quando te escuto, mesmo em dias de silêncio.
Não nascemos sós. Nascemos dela. Não morremos sós, mas
amparados por sua memória.
Não faço parte da tua galeria. Sou o exílio do teu sorriso.
Sou tua, dizes de pronto. Assim me derrubas, beldade do
abismo
É perfeita a posição do teu canto, esgrimindo a voz enquanto
danço.
Já estiveste no sol, em outras vidas. Por isso tens essa luz
que se abre como flor no amanhecer da nossa ventura.
Não tens obrigação com o mundo percebido. Nem com o sonho,
esse refúgio. És de outra estirpe, criatura sem vínculos. Talvez o amor seja o
que mais te aproxima.
Coleciono corações que me envias do teu.
Navego num mar de mel quando me dizes qualquer coisa.
Ainda estou moço, para sempre, glória do meu sonho, amor que
tardou mas ainda é precoce. Acredite na felicidade, a que construiremos
presentes, como dois amantes na mesma sintonia.
É tempo firme, sol de maio, enquanto inundas, inútil
tempestade.
Não te permitem o amor pela idade. Esquecem que o tempo
presente é o berço que carrega a eternidade.
Exponho na galeria do acaso o fogo que tratas com
indiferença.
Mantens distância para que eu permaneça estranho.
Cheguei ao verso mínimo. Tua lágrima.
Somos idênticos. Só o amor faz a diferença
Ao vivo eras outra pessoa. Trazias o vento de carona.
Saudade de ti que há duas horas não vejo.
Um deus se afoga. As nuvens testemunham.
Não diga por dizer. Tuas palavras tem raízes.
Nuvens capricham na caligrafia dos fios estendidos no
caderno do crepúsculo.
RETORNO - Imagem desta edição: Crepúsculo rosa na ilha de Santa Catarina. Foto de Nei Duclós.
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