30 de abril de 2014

SALVAS MEU DIA



Nei Duclós

Salvas meu dia com tua voz de quintal antigo,
daqueles que parecem sujos porque estão vivos.
Canteiros pelos cantos, ervas, madressilvas,  
flores desconhecidas. Uma cerca meio caída,
 exausta  de pensar no inverno que se aproxima.

Tens a cantoria dos pássaros da figueira
esparramada pela rua, onde crianças brincam.
No céu passa um avião para torres longínquas .
És um disco arranhado na mesma melodia,
a do sonho a dois entre esporo e clorofila.

És a natureza que canta em meu ouvido, a criatura
que me inventou junto ao amor que nunca existira.
Inauguras a manhã, raio que cruza o ar como um sino.
Moras em mim com tua rede sonora de especiarias.