Nei Duclós
Amor é quando o prazer se mantém no
dia seguinte.
Já fui barro, hoje sou celeste.
Sopro de volta a luz que me deste
Sempre que te amo saio correndo. Por
isso percorri toda a galáxia. Me viram em Andrômeda, água de cheiro.
Só tomo sol na Lua cheia.
Fui proibido de te amar. Então
decidi treinar solidão com os faróis e as ilhas de coral.
O poema é o amor que eu não declaro,
que jogo como semente, tombo na manhã imensa.
Mantos cobrem teu sonho. O vento do
deserto bate neles e voas, cabelos soltos, olhos de amêndoa.
Sou amigo de Afrodite. Tu, sonho do
Olimpo.
Faço versos noturnos para cercar teu
brilho. Assim reinas, poderosa eclipse
Não te procuro porque já cumprimos a
escrita. Agora somos uma leitura tardia de falas esquecidas.
O amor vem antes. Viver fica para
depois.
És uma civilização, a que não foi
perdida, porque encontrou abrigo no meu coração.
A única moeda de valor é a Lua
cheia. Ela nasce no cofre do horizonte rútila como um olho de ouro.
Tens parte com a divindade, mas não
percebes. Tateias algo com a maquiagem, mas é o andar natural e o gesto
inspirado no súbito sonho que te faz acima das criaturas da terra.
A poesia toma o rumo que bem
entende. Você é o guia cego, orientado pelo ruído das palavras. A todo
instante, te aproximas do precipício.
Melhor não ciscar no acervo
acumulado pelos anos. Deixe fluir o esquecimento. A memória é uma ficção,
merece ser escrita no capricho.
O tempo não nos afasta. Já éramos
estranhos em qualquer época. Apenas descobrimos ciclicamente, a cada tentativa
de reencontro, os motivos da distância.
Não há sintonia. Nossos cultivos não
combinam. A não ser que, livres, possamos estabelecer uma outra semeadura.
Não queres ouvir, cansaste do
poema,por isso me calo. Guardo a semente em território sem água, o coração
deserto. Um dia ela medra, pela exaustão do bocejo.
Sou romântico por contingência. Você
tem ombros...
Épocas se tocam no tempo que se
dobra. Curto espaço do que parecia infinito.
No elogio, desconfie. Pode ser
sincero.
JACK E A SEREIA NA PAIXÃO
- Por que não posso passear no mar
na semana santa? perguntou a Sereia.
- Por prudência, minha deusa, por prudência, disse Jack o Marujo. As redes estão famintas.
- Por prudência, minha deusa, por prudência, disse Jack o Marujo. As redes estão famintas.
- Vou fazer camarão para esta
sexta-feira, disse a Sereia.
- Não tens um pingo de solidariedade, disse Jack o Marujo, bêbado.
- Não tens um pingo de solidariedade, disse Jack o Marujo, bêbado.
- Eu não sou peixe! disse, chorando,
a Sereia. Sou mulher, viu, mulher!
- Os marinheiros sabem disso, disse Jack o Marujo. Mas gostam mais das escamas.
- Os marinheiros sabem disso, disse Jack o Marujo. Mas gostam mais das escamas.
- Não fique ofendida, disse Jack o
Marujo para a Sereia. Consulte meu signo. Sou de Peixes.