19 de abril de 2014

A LUZ QUE ME DESTE



Nei Duclós

Amor é quando o prazer se mantém no dia seguinte.

Já fui barro, hoje sou celeste. Sopro de volta a luz que me deste

Sempre que te amo saio correndo. Por isso percorri toda a galáxia. Me viram em Andrômeda, água de cheiro.

Só tomo sol na Lua cheia.

Fui proibido de te amar. Então decidi treinar solidão com os faróis e as ilhas de coral.

O poema é o amor que eu não declaro, que jogo como semente, tombo na manhã imensa.

Mantos cobrem teu sonho. O vento do deserto bate neles e voas, cabelos soltos, olhos de amêndoa.

Sou amigo de Afrodite. Tu, sonho do Olimpo.

Faço versos noturnos para cercar teu brilho. Assim reinas, poderosa eclipse

Não te procuro porque já cumprimos a escrita. Agora somos uma leitura tardia de falas esquecidas.

O amor vem antes. Viver fica para depois.

És uma civilização, a que não foi perdida, porque encontrou abrigo no meu coração.

A única moeda de valor é a Lua cheia. Ela nasce no cofre do horizonte rútila como um olho de ouro.

Tens parte com a divindade, mas não percebes. Tateias algo com a maquiagem, mas é o andar natural e o gesto inspirado no súbito sonho que te faz acima das criaturas da terra.

A poesia toma o rumo que bem entende. Você é o guia cego, orientado pelo ruído das palavras. A todo instante, te aproximas do precipício.

Melhor não ciscar no acervo acumulado pelos anos. Deixe fluir o esquecimento. A memória é uma ficção, merece ser escrita no capricho.

O tempo não nos afasta. Já éramos estranhos em qualquer época. Apenas descobrimos ciclicamente, a cada tentativa de reencontro, os motivos da distância.

Não há sintonia. Nossos cultivos não combinam. A não ser que, livres, possamos estabelecer uma outra semeadura.

Não queres ouvir, cansaste do poema,por isso me calo. Guardo a semente em território sem água, o coração deserto. Um dia ela medra, pela exaustão do bocejo.

Sou romântico por contingência. Você tem ombros...

Épocas se tocam no tempo que se dobra. Curto espaço do que parecia infinito.

No elogio, desconfie. Pode ser sincero.

 

JACK E A SEREIA NA PAIXÃO

- Por que não posso passear no mar na semana santa? perguntou a Sereia.
- Por prudência, minha deusa, por prudência, disse Jack o Marujo. As redes estão famintas.

- Vou fazer camarão para esta sexta-feira, disse a Sereia.
- Não tens um pingo de solidariedade, disse Jack o Marujo, bêbado.

- Eu não sou peixe! disse, chorando, a Sereia. Sou mulher, viu, mulher!
- Os marinheiros sabem disso, disse Jack o Marujo. Mas gostam mais das escamas.

- Não fique ofendida, disse Jack o Marujo para a Sereia. Consulte meu signo. Sou de Peixes.