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1 de julho de 2011
A RELAÇÃO IMAGINADA
O romantismo não estava de todo errado. É preciso imaginar a relação para que ela exista. O amor eterno é uma ficção real, alimentada pelo sentimento, seu verbo encantado. Escrevia-se esse sonhar cheio de poder não apenas nas cartas enviadas por meio de mensageiros confiáveis, mas no coração.
Aquela velha amizade é também um texto. O tempo depura detalhes irrelevantes e sobrevive apenas a alegria do reencontro, celebrando a lenda que aproxima duas pessoas acima das agruras e vaidades da vida. De perto, todo mundo é normal. Imaginado, é outra coisa: alvo de uma relação, essa impossibilidade gerada pelo confronto entre a escassez humana e sua transcendência.
Bater contra o romantismo é inútil, não porque não seja datado,mas porque sempre haverá necessidade da imaginação para um relacionamento funcionar. O problema é esse movimento de rotação girar em torno de um modelo, como o príncipe encantado ou a celebridade. Fica difícil imaginar uma relação quando os parâmetros atrapalham a capacidade de sonhar.
Todo mundo faz fantasias com estrelas, mas a conexão com pessoas próximas precisam de outros canais, sem jamais prescindir da invenção pessoal. O que alimenta oi sonho é um mistério: algo bate, vindo de outra pessoa, ou então se instala aos poucos até o insight devastador, que faz os amantes correrem para o abraço decisivo.
O cinema trabalha com fórmulas que funcionam no processo audiovisual, e servem de roteiro para a relação imaginada. Os amantes estão um ao lado do outro sem atinar que ali está a possibilidade, a chance. Só quando a casca desse relacionamento se rompe, ou seja, quando o sonhar toma conta da vigília, é que acontece alguma coisa.
A queixa hoje é que não se aposta mais em relação duradoura. Há um rodízio permanente, um carrossel difícil de parar – nem sempre, pois os casamentos continuam em alta. Mas é grande o encalhe, a dificuldade de conectar-se passando por cima do supérfluo, do encontro fortuito ou da concorrência predatória, que gera um entredevorar de corações.
Por que falo essas coisas,se não entendo nada? Pura mediunidade. Os assuntos chegam sem perguntar e acabam se impondo. Se não der trela, eles murcham e somem pelo ralo. Não gosto de perder a vez de um texto que promete. Se não saiu direito, paciência. Sempre haverá espaço para um novo post.
RERTORNO - Imagem desta edição: Audrey Hepburn casa com Fred Astaire em 'Funny Face' (1957).
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