Primeiro livro de Rubens Jardim em 30 anos, “Cantares da Paixão” rompe com os diques aparentemente sólidos de um tempo mau. (Atenção: leia abaixo, na seção Extra, a bela carta enviada por Rubens Jardim comentando esta resenha).
Nei Duclós (*)
A essência da tirania é interromper o fluxo do pensamento, último reduto da liberdade. As falas internas, as que se formam espontaneamente antes de serem expressas, são substituídas pelos arremedos de linguagem. O jingle que não sai da cabeça, a palavra de ordem jamais esquecida, a frase bem sacada que costura conversas, os jargões corporativos, os apelos políticos, as evidências históricas: eis um conjunto perverso que habita esse vácuo provocado pela interrupção do livre pensar.
A ele se soma a poesia, que continua cumprindo o papel de adorno de luxo, de emoção barata, de sabedoria-minuto, como costuma acontecer no atual estágio em que o trocadilho foi entronizado como insight esperto das mercadorias mais descartáveis, as pessoas. À custa, inclusive das grandes obras poéticas, que o deslumbramento sob medida transforma em lixo graças à repetição vazia, como é o caso do binômio passarinho/passarão. No mesmo recinto, suam os corpos ansiosos dos poemas metidos a besta, passaporte para notoriedades e até mesmo verbas públicas.
Esse acervo trágico é o escolho trazido pela maré alta do capitalismo de farol, o sistema que tenta se safar ao definir como bolha o que era tido como mercado até a véspera do colapso. De farol porque obriga o cidadão despossuído a lutar pela sobrevivência na instabilidade dos cruzamentos, e não na solidez do trabalho bem remunerado. No Brasil, a ciranda financeira, que a tudo reduz a pó, se aliou à longa presença de governantes apartados da cultura. Como vasos comunicantes, elas alimentam o esquecimento programado, que esvazia e reparte em postas a identidade da nação desconstruída.
Contra isso se insurgem, reduzidos ao silêncio, os poetas que mergulham na poesia com a gana de romper esses diques, mesmo que o reconhecimento fique no limbo, a obra submerja no esquecimento, se confunda no excesso de ofertas da rede virtual, ou o livro tarde. É o caso de Rubens Jardim, que lançou “Cantares da Paixão” (Artepaubrasil, 159 páginas), seu primeiro livro em 30 anos, um arsenal poético fartamente ilustrado e que vem em socorro dos que não se entregam às imposições das falas oficiais. Apesar da auto-imagem do poeta ter sofrido o impacto da indiferença, tanto é que se considera “menor” (vício da crítica literária inventado por Antonio Candido), este livro é um conjunto de assombros.
Não apenas pelo lugar que Rubens Jardim ocupa, de fato, na literatura brasileira, desde os anos 60 ao participar como protagonista da movimento Catequese Poética, liderado por Lindolf Bell, que inaugurou no País o evento cultural de massa em praça pública. O poema manifesto, tornado tradicional pelo tempo transcorrido e resgatado agora na memória impressa, é apenas um aspecto de seu trabalho. O mais importante não é sua “pertença”, sua biografia poética, mesmo que o núcleo de onde surgiu seja de citação obrigatória. O fundamental, em Ruben s Jardim, é o deslocamento do poema para fora da linguagem, o que é feito com maestria, no uso da palavra conhecida e na eventual quebra silábica do discurso.
O poeta reconhece: “Parca é a palavra./ Este é o celeiro-livro/ na livre escolha/ esquálida/ das espigas.”A colheita escassa no inventário do verbo sem nenhum poder empurra o poeta para longe do poema, transformando-o num catador de estilhaços, os restos de algo irreparável.
Impossível reproduzir numa resenha o impacto do trecho final do livro, que homenageia o primo tragicamente morto na queda de uma janela. O título é “Estrepitoso estrepe” e podemos selecionar alguns momentos, sem reproduzir o design dos versos na página: “Tenho velado nestes 50 anos a tua queda e não consigo remover do chão as marcas do teu corpo nem comover os degraus na escalada da tua morte. Hediondo instante. Você me deixou mais só diante do raio da rua e adiante de mim mesmo, irretratável realidade”.
Um soneto admirável na página 78 é mais um exemplo desse jogo que ele prefere decidir na arquibancada, ou na várzea, enquanto o campeonato corrompe o meio do campo: “Toda mulher é uma viagem/ ao desconhecido. Igual poesia/ avessa ao verso e à trucagem,/ mulher é iniciação do dia,/promessa, surpresa, miragem./ De nada adiantam mapas, guias,/ cenas ensaiadas ou pilhagens./ Controverso ser, mulher é via/de mão única, abismo, moagem./ É também risco máximo, magia,/ caminho íngreme na paisagem./Simplificando: mulher é linguagem,/ palavra nova, imagem que anistia/ o ser, o vir-a-ser e outras bobagens”.
Fica estranho dizer que o poeta se coloca fora da linguagem para lá encontrar a essência, a origem, o sabor, a história e, agora sim, o pertencimento da palavra. Mas essa é a solução encontrada pelo talento, esse mistério da sabedoria. O que vale é fazer parte de um povo e não de um grupo, mesmo que um seja representação do outro. Misturar-se ao caos primordial onde o verbo tem a força da criação e faz parte das rotinas é talvez do sonho de todo poeta, um árcade por excelência, pois sabe que da natureza flui o poema. No convívio com a terra, esse universo não literário, é que a poesia se salva. Em Jardim, há inclusive uma Marília de Dirceu: “Anarda era imprevista como as provisões, o pasto, o repasto. Prato bipartido Anarda se unifica: seu próprio rosto é um retrato.” Ou : “Anarda era uma viagem dentro do tinteiro. Cor e acorde, Anarda era uma âncora dentro do tinteiro. Antes marco e agora traço, Anarda é signo, insígnia, dentro do tinteiro.”
A consciência de que perdemos a batalha da linguagem, que as falas impositivas imperam na paisagem da cultura em ruínas, faz do poeta um outsider inclusive de si mesmo. Não que renegue o que fez ou tenta fazer. Mas porque insiste na busca e descobre que ao retirar-se, encontra. Nessa luta se desloca, sai para fora do mundo reconhecido. Como Jardim consegue ser um poeta do eu, como dizem, confessional a maior parte do tempo (seu grande poema para o pai expressa essa opção), se ele abandona a casa conhecida da poesia?
Sua escolha é consciente, a ruptura é fruto de árdua reflexão e exercício. E o deslocamento acontece como resultado desse esforço. No livro, uma longa entrevista foi incluída, demonstrando a complexidade de sua reflexão. Ao se manter fiel ao trabalho poético, sem vislumbrar nele nenhuma utilidade, Jardim reencontra o impulso do papel do poeta, mesmo sem usar a máscara que deveria defini-lo. Encontrar um lugar comum (de todos) fora da mesmice é uma contradição bem ao gosto da máxima de Torquato Neto: “Leve um homem e um boi ao matadouro. Aquele que berra é o homem, mesmo que seja o boi”.
Ao contrário de quem se entregou à tirania da falsa linguagem, Jardim exercitou o berro. Sorte de quem lê ou ouve: sua voz é melodiosa, e tem a vibração de uma passeata, aquele movimento coletivo de rua, que era aclamado nas sacadas da nação ainda esperançosa. Com “Cantares da Paixão”, a palavra, que tinha sido expulsa, voltou, como se ainda fosse possível reinaugurar o milagre.
RETORNO - 1. (*) Resenha publicada neste sábado, dia 6 de dezembro de 2008, na página 4 do Caderno de Cultura, do Diário Catarinense. 2. Imagem desta edição: Rubens Jardim lê um poema na 1ª Bienal Internacional de Poesia de Brasília (foto e legenda originalmente publicadas no Cultura). 3. O livro Cantares da Paixão, do poeta Rubens Jardim, será lançado na Livraria Martins Fontes (da av. Paulista), no dia 9 de dezembro, a partir das 18h30 até às 21h30.
BATE O BUMBO - O poeta e cronista Olsen Jr. me envia a seguinte mensagem: "Olá, Mr. Nei, salve! Acabo de ler, em um café aqui na Lagoa, o teu texto sobre o Rubens Jardim...Já havia esquecido desse poeta, grande poeta, belos poemas e excelente texto o teu, (re)apresentando-o ao público...Talvez o que resta para o escritor seja isso mesmo, restituir o verdadeiro Sentido às palavras, sem perder a ternura pelo que significam e a indignação por não Podermos "abrir a guarda"...Camarada, bom saber que a sua pena continua afiada e cortando só o que interessa para a refeição imediata, sem prejuízos, sem esbanjamentos... Abraço fraterno, do viking auto-exilado na Lagoa, e colorado, acrescente-se!"
EXTRA : RUBENS JARDIM LÊ A RESENHA:
"Nei, meu caro. Nunca na minha longa trajetória poética, alguém escreveu algo semelhante. Não sei explicar, mas você tocou em pontos sensíveis da minha alma. Gostei muito da contextualização da tua análise. Também sinto esse acervo trágico da emoção barata e da sabedoria minuto. Mas nunca havia pensado que os meus poemas estivessem alinhados na luta para romper esses diques e as imposições das falas oficiais.
O certo é que esta tua resenha é que é um conjunto de assombros. Desde o título, A VOLTA DA PALAVRA, até seus afinados desdobramentos,você conseguiu me remeter de novo ao grande Jorge de Lima. Ele já escreveu, em poemas inesquecíveis, algo bem aparentado com o teu brilhante e afiado discurso:
"As palavras envelheceram dentro dos homens
separadas em ilhas,
as palavras se mumificaram na boca dos legisladores;
as palavras apodreceram nas promessas dos tiranos;
as palavras nada significam nos discursos dos homens públicos...
E, por acaso, a palavra imortal há de adoecer?
E, por acaso, as grandes palavras semitas podem desaparecer?
E, por acaso, o poeta não foi designado para vivificar a palavra de novo?
Para colhê-la de cima das águas e oferecê-la outra vez aos homens do
continente?
E, não foi ele apontado para restituir-lhe a sua essência
e reconstituir o seu conteúdo mágico?" (Jorge de Lima)
Nei Duclós (*)
A essência da tirania é interromper o fluxo do pensamento, último reduto da liberdade. As falas internas, as que se formam espontaneamente antes de serem expressas, são substituídas pelos arremedos de linguagem. O jingle que não sai da cabeça, a palavra de ordem jamais esquecida, a frase bem sacada que costura conversas, os jargões corporativos, os apelos políticos, as evidências históricas: eis um conjunto perverso que habita esse vácuo provocado pela interrupção do livre pensar.
A ele se soma a poesia, que continua cumprindo o papel de adorno de luxo, de emoção barata, de sabedoria-minuto, como costuma acontecer no atual estágio em que o trocadilho foi entronizado como insight esperto das mercadorias mais descartáveis, as pessoas. À custa, inclusive das grandes obras poéticas, que o deslumbramento sob medida transforma em lixo graças à repetição vazia, como é o caso do binômio passarinho/passarão. No mesmo recinto, suam os corpos ansiosos dos poemas metidos a besta, passaporte para notoriedades e até mesmo verbas públicas.
Esse acervo trágico é o escolho trazido pela maré alta do capitalismo de farol, o sistema que tenta se safar ao definir como bolha o que era tido como mercado até a véspera do colapso. De farol porque obriga o cidadão despossuído a lutar pela sobrevivência na instabilidade dos cruzamentos, e não na solidez do trabalho bem remunerado. No Brasil, a ciranda financeira, que a tudo reduz a pó, se aliou à longa presença de governantes apartados da cultura. Como vasos comunicantes, elas alimentam o esquecimento programado, que esvazia e reparte em postas a identidade da nação desconstruída.
Contra isso se insurgem, reduzidos ao silêncio, os poetas que mergulham na poesia com a gana de romper esses diques, mesmo que o reconhecimento fique no limbo, a obra submerja no esquecimento, se confunda no excesso de ofertas da rede virtual, ou o livro tarde. É o caso de Rubens Jardim, que lançou “Cantares da Paixão” (Artepaubrasil, 159 páginas), seu primeiro livro em 30 anos, um arsenal poético fartamente ilustrado e que vem em socorro dos que não se entregam às imposições das falas oficiais. Apesar da auto-imagem do poeta ter sofrido o impacto da indiferença, tanto é que se considera “menor” (vício da crítica literária inventado por Antonio Candido), este livro é um conjunto de assombros.
Não apenas pelo lugar que Rubens Jardim ocupa, de fato, na literatura brasileira, desde os anos 60 ao participar como protagonista da movimento Catequese Poética, liderado por Lindolf Bell, que inaugurou no País o evento cultural de massa em praça pública. O poema manifesto, tornado tradicional pelo tempo transcorrido e resgatado agora na memória impressa, é apenas um aspecto de seu trabalho. O mais importante não é sua “pertença”, sua biografia poética, mesmo que o núcleo de onde surgiu seja de citação obrigatória. O fundamental, em Ruben s Jardim, é o deslocamento do poema para fora da linguagem, o que é feito com maestria, no uso da palavra conhecida e na eventual quebra silábica do discurso.
O poeta reconhece: “Parca é a palavra./ Este é o celeiro-livro/ na livre escolha/ esquálida/ das espigas.”A colheita escassa no inventário do verbo sem nenhum poder empurra o poeta para longe do poema, transformando-o num catador de estilhaços, os restos de algo irreparável.
Impossível reproduzir numa resenha o impacto do trecho final do livro, que homenageia o primo tragicamente morto na queda de uma janela. O título é “Estrepitoso estrepe” e podemos selecionar alguns momentos, sem reproduzir o design dos versos na página: “Tenho velado nestes 50 anos a tua queda e não consigo remover do chão as marcas do teu corpo nem comover os degraus na escalada da tua morte. Hediondo instante. Você me deixou mais só diante do raio da rua e adiante de mim mesmo, irretratável realidade”.
Um soneto admirável na página 78 é mais um exemplo desse jogo que ele prefere decidir na arquibancada, ou na várzea, enquanto o campeonato corrompe o meio do campo: “Toda mulher é uma viagem/ ao desconhecido. Igual poesia/ avessa ao verso e à trucagem,/ mulher é iniciação do dia,/promessa, surpresa, miragem./ De nada adiantam mapas, guias,/ cenas ensaiadas ou pilhagens./ Controverso ser, mulher é via/de mão única, abismo, moagem./ É também risco máximo, magia,/ caminho íngreme na paisagem./Simplificando: mulher é linguagem,/ palavra nova, imagem que anistia/ o ser, o vir-a-ser e outras bobagens”.
Fica estranho dizer que o poeta se coloca fora da linguagem para lá encontrar a essência, a origem, o sabor, a história e, agora sim, o pertencimento da palavra. Mas essa é a solução encontrada pelo talento, esse mistério da sabedoria. O que vale é fazer parte de um povo e não de um grupo, mesmo que um seja representação do outro. Misturar-se ao caos primordial onde o verbo tem a força da criação e faz parte das rotinas é talvez do sonho de todo poeta, um árcade por excelência, pois sabe que da natureza flui o poema. No convívio com a terra, esse universo não literário, é que a poesia se salva. Em Jardim, há inclusive uma Marília de Dirceu: “Anarda era imprevista como as provisões, o pasto, o repasto. Prato bipartido Anarda se unifica: seu próprio rosto é um retrato.” Ou : “Anarda era uma viagem dentro do tinteiro. Cor e acorde, Anarda era uma âncora dentro do tinteiro. Antes marco e agora traço, Anarda é signo, insígnia, dentro do tinteiro.”
A consciência de que perdemos a batalha da linguagem, que as falas impositivas imperam na paisagem da cultura em ruínas, faz do poeta um outsider inclusive de si mesmo. Não que renegue o que fez ou tenta fazer. Mas porque insiste na busca e descobre que ao retirar-se, encontra. Nessa luta se desloca, sai para fora do mundo reconhecido. Como Jardim consegue ser um poeta do eu, como dizem, confessional a maior parte do tempo (seu grande poema para o pai expressa essa opção), se ele abandona a casa conhecida da poesia?
Sua escolha é consciente, a ruptura é fruto de árdua reflexão e exercício. E o deslocamento acontece como resultado desse esforço. No livro, uma longa entrevista foi incluída, demonstrando a complexidade de sua reflexão. Ao se manter fiel ao trabalho poético, sem vislumbrar nele nenhuma utilidade, Jardim reencontra o impulso do papel do poeta, mesmo sem usar a máscara que deveria defini-lo. Encontrar um lugar comum (de todos) fora da mesmice é uma contradição bem ao gosto da máxima de Torquato Neto: “Leve um homem e um boi ao matadouro. Aquele que berra é o homem, mesmo que seja o boi”.
Ao contrário de quem se entregou à tirania da falsa linguagem, Jardim exercitou o berro. Sorte de quem lê ou ouve: sua voz é melodiosa, e tem a vibração de uma passeata, aquele movimento coletivo de rua, que era aclamado nas sacadas da nação ainda esperançosa. Com “Cantares da Paixão”, a palavra, que tinha sido expulsa, voltou, como se ainda fosse possível reinaugurar o milagre.
RETORNO - 1. (*) Resenha publicada neste sábado, dia 6 de dezembro de 2008, na página 4 do Caderno de Cultura, do Diário Catarinense. 2. Imagem desta edição: Rubens Jardim lê um poema na 1ª Bienal Internacional de Poesia de Brasília (foto e legenda originalmente publicadas no Cultura). 3. O livro Cantares da Paixão, do poeta Rubens Jardim, será lançado na Livraria Martins Fontes (da av. Paulista), no dia 9 de dezembro, a partir das 18h30 até às 21h30.
BATE O BUMBO - O poeta e cronista Olsen Jr. me envia a seguinte mensagem: "Olá, Mr. Nei, salve! Acabo de ler, em um café aqui na Lagoa, o teu texto sobre o Rubens Jardim...Já havia esquecido desse poeta, grande poeta, belos poemas e excelente texto o teu, (re)apresentando-o ao público...Talvez o que resta para o escritor seja isso mesmo, restituir o verdadeiro Sentido às palavras, sem perder a ternura pelo que significam e a indignação por não Podermos "abrir a guarda"...Camarada, bom saber que a sua pena continua afiada e cortando só o que interessa para a refeição imediata, sem prejuízos, sem esbanjamentos... Abraço fraterno, do viking auto-exilado na Lagoa, e colorado, acrescente-se!"
EXTRA : RUBENS JARDIM LÊ A RESENHA:
"Nei, meu caro. Nunca na minha longa trajetória poética, alguém escreveu algo semelhante. Não sei explicar, mas você tocou em pontos sensíveis da minha alma. Gostei muito da contextualização da tua análise. Também sinto esse acervo trágico da emoção barata e da sabedoria minuto. Mas nunca havia pensado que os meus poemas estivessem alinhados na luta para romper esses diques e as imposições das falas oficiais.
O certo é que esta tua resenha é que é um conjunto de assombros. Desde o título, A VOLTA DA PALAVRA, até seus afinados desdobramentos,você conseguiu me remeter de novo ao grande Jorge de Lima. Ele já escreveu, em poemas inesquecíveis, algo bem aparentado com o teu brilhante e afiado discurso:
"As palavras envelheceram dentro dos homens
separadas em ilhas,
as palavras se mumificaram na boca dos legisladores;
as palavras apodreceram nas promessas dos tiranos;
as palavras nada significam nos discursos dos homens públicos...
E, por acaso, a palavra imortal há de adoecer?
E, por acaso, as grandes palavras semitas podem desaparecer?
E, por acaso, o poeta não foi designado para vivificar a palavra de novo?
Para colhê-la de cima das águas e oferecê-la outra vez aos homens do
continente?
E, não foi ele apontado para restituir-lhe a sua essência
e reconstituir o seu conteúdo mágico?" (Jorge de Lima)
Não tem tudo a ver com essa tua magnífica abordagem na resenha? Receba, meu caro Nei, a minha eterna gratidão por momentos de altíssima emoção. Abração comovido. Rubens Jardim."
Nenhum comentário:
Postar um comentário