Na Missa do Galo transmitida pela TV, longos e largos minutos de absoluto silêncio tomaram conta da multidão na Basílica São Pedro, por imposição de Bento XVI. Eis um papa que toca no ponto. Esses dias, ultimando meu livro novo de poemas, Partimos de Manhã, descobri que uso a palavra silêncio mais de 30 vezes, espalhada por inúmeros versos. Fazemos ruído demais, diz o Papa, que propõe calarmos a boca, parar com o ruído. Os padres que transmitiam a missa não agüentaram tanto tempo quietos e começaram a sua algaravia, típica da mídia que nos atordoa. Este Papa não está a passeio.
Gosto de estadistas concentrados, que seguem rotinas, que aprofundam e intensificam suas decisões, que trabalham. Não importa se viajam ou não, a questão não é essa. João Paulo I viajava e era um grande estadista. Ratzinger, que assumiu o papado em meio à má vontade geral, acusado de nazista, ultra-conservador, reacionário, hiper burocrático, a favor da igreja fundamentalista e não sei mais o quê, investiu, em sua tradicional mensagem de Natal, contra a ditadura da ciranda financeira. Ela nos levará a ruína, avisou. O que nos salvará é a solidariedade. Não essa de ocasião e em frente às câmaras ou que distribui porcarias chinesas para criança pobre.
Também mandou calar a boca esses carismáticos que enchem a paciência dos fiéis nas missas. Não tenho ido mais à Igreja, porque não agüento tantas mãos levantadas, sacudindo no ar, como se todo mundo estivesse se despedindo de um navio de imigrantes. Também cantarolar o Padre-Nosso com as palmas abertas, em vez apenas de rezar com as mãos postas, me deixam passado. Já tive vários momentos de ruptura com a Igreja. Uma foi quando a extrema direita dominava o discurso dos padres, como acontecia antes de João 23. Depois, quanto os petistas inventaram que Jesus foi carpinteiro, ou seja, “trabalhador”. Cristo era filho do dono da oficina, não podia portanto ser operário. Era artesão e proprietário.
Agora é esse troço carismático. Quando ainda morava em São Paulo, me retirei de uma missa porque o padre começou a chamar os cabecinhas brancas para homenagear a Terceira Idade. Não quis pagar o mico de ficar lá na frente à mercê de um sacerdote performático. Quando cheguei em Florianópolis, assisti várias missas no centro da cidade, na maravilhosa Igreja Matriz e também na linda e simpática Igreja de São Francisco. Lá, ouvi sermões perfeitos, de profunda sabedoria teológica e super sintonizados com os nossos tempos e nosso país. Há luzes na Igreja.
Os carismáticos são os evangélicos do catolicismo. Tem uma grande igreja aqui que diz assim num painel: Igreja Católica. Ora, vão se catar. Não somos uma pentecostal qualquer para nos identificar entre muitas outras. A Católica é a Igreja fundada por Cristo, tem mais de dois mil anos, não precisa de painel. Precisa ser um templo, parecer um templo, e não esses galpões modernosos oscarniemayerizados que inventaram de construir em tudo que é lugar. A frieza e a indiferença do concreto tomou conta das construções católicas e vemos imitações das curvas da Basílica de Brasília por todo o lado. Prefiro aquele grande teto redondo das igrejas tradicionais, o sacrário, os vitrais, a capela, o grande altar, a torre com sino.
Segundo a Folha, Folha, Bento 16 pediu solidariedade, em vez de egoísmo, em tempos de crise econômica, no seu discurso "Urbe et Orbi" feito na praça São Pedro. Falou também falou do "horizonte sombrio" para palestinos e israelenses."Se as pessoas olharem apenas para seus próprios interesses, o mundo certamente irá se arruinar."
E falou da África, com todas as letras: citou especificadamente o Zimbábue, onde as pessoas "estão presas há muito tempo numa crise política e social que, tristemente, só piora". Citou ainda a violência na República Democrática do Congo e na região sudanesa de Darfur, além dos "sofrimentos intermináveis" da Somália. Ainda segundo a Folha (que reproduzo aqui porque fiquei impressionado com a contundência do Papa), disse que "o horizonte parece ter se tornado sombrio para os israelenses e palestinos" -na última sexta-feira, expirou a trégua entre o grupo radical palestino Hamas e Israel. E abençoou aqueles que escolheram "a vida do diálogo". Bento 16 fez ainda um apelo às crianças sem família e "vítimas da indústria pornográfica e de outras formas de abuso".
Isso depois de dizer investir contra a celebração do homossexualismo, que contraria as lições da criação. Não se trata de criminalizar homossexuais, mas de impedir que o troço vire lei. O Papa bate forte.
RETORNO - Imagem deste post: detalhe da Catedral Santana, de Uruguaiana, foto de Anderson Petroceli.
Gosto de estadistas concentrados, que seguem rotinas, que aprofundam e intensificam suas decisões, que trabalham. Não importa se viajam ou não, a questão não é essa. João Paulo I viajava e era um grande estadista. Ratzinger, que assumiu o papado em meio à má vontade geral, acusado de nazista, ultra-conservador, reacionário, hiper burocrático, a favor da igreja fundamentalista e não sei mais o quê, investiu, em sua tradicional mensagem de Natal, contra a ditadura da ciranda financeira. Ela nos levará a ruína, avisou. O que nos salvará é a solidariedade. Não essa de ocasião e em frente às câmaras ou que distribui porcarias chinesas para criança pobre.
Também mandou calar a boca esses carismáticos que enchem a paciência dos fiéis nas missas. Não tenho ido mais à Igreja, porque não agüento tantas mãos levantadas, sacudindo no ar, como se todo mundo estivesse se despedindo de um navio de imigrantes. Também cantarolar o Padre-Nosso com as palmas abertas, em vez apenas de rezar com as mãos postas, me deixam passado. Já tive vários momentos de ruptura com a Igreja. Uma foi quando a extrema direita dominava o discurso dos padres, como acontecia antes de João 23. Depois, quanto os petistas inventaram que Jesus foi carpinteiro, ou seja, “trabalhador”. Cristo era filho do dono da oficina, não podia portanto ser operário. Era artesão e proprietário.
Agora é esse troço carismático. Quando ainda morava em São Paulo, me retirei de uma missa porque o padre começou a chamar os cabecinhas brancas para homenagear a Terceira Idade. Não quis pagar o mico de ficar lá na frente à mercê de um sacerdote performático. Quando cheguei em Florianópolis, assisti várias missas no centro da cidade, na maravilhosa Igreja Matriz e também na linda e simpática Igreja de São Francisco. Lá, ouvi sermões perfeitos, de profunda sabedoria teológica e super sintonizados com os nossos tempos e nosso país. Há luzes na Igreja.
Os carismáticos são os evangélicos do catolicismo. Tem uma grande igreja aqui que diz assim num painel: Igreja Católica. Ora, vão se catar. Não somos uma pentecostal qualquer para nos identificar entre muitas outras. A Católica é a Igreja fundada por Cristo, tem mais de dois mil anos, não precisa de painel. Precisa ser um templo, parecer um templo, e não esses galpões modernosos oscarniemayerizados que inventaram de construir em tudo que é lugar. A frieza e a indiferença do concreto tomou conta das construções católicas e vemos imitações das curvas da Basílica de Brasília por todo o lado. Prefiro aquele grande teto redondo das igrejas tradicionais, o sacrário, os vitrais, a capela, o grande altar, a torre com sino.
Segundo a Folha, Folha, Bento 16 pediu solidariedade, em vez de egoísmo, em tempos de crise econômica, no seu discurso "Urbe et Orbi" feito na praça São Pedro. Falou também falou do "horizonte sombrio" para palestinos e israelenses."Se as pessoas olharem apenas para seus próprios interesses, o mundo certamente irá se arruinar."
E falou da África, com todas as letras: citou especificadamente o Zimbábue, onde as pessoas "estão presas há muito tempo numa crise política e social que, tristemente, só piora". Citou ainda a violência na República Democrática do Congo e na região sudanesa de Darfur, além dos "sofrimentos intermináveis" da Somália. Ainda segundo a Folha (que reproduzo aqui porque fiquei impressionado com a contundência do Papa), disse que "o horizonte parece ter se tornado sombrio para os israelenses e palestinos" -na última sexta-feira, expirou a trégua entre o grupo radical palestino Hamas e Israel. E abençoou aqueles que escolheram "a vida do diálogo". Bento 16 fez ainda um apelo às crianças sem família e "vítimas da indústria pornográfica e de outras formas de abuso".
Isso depois de dizer investir contra a celebração do homossexualismo, que contraria as lições da criação. Não se trata de criminalizar homossexuais, mas de impedir que o troço vire lei. O Papa bate forte.
RETORNO - Imagem deste post: detalhe da Catedral Santana, de Uruguaiana, foto de Anderson Petroceli.
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