24 de junho de 2008

COISAS INSUPORTÁVEIS DO CINEMA


Costumo escrever sobre filmes que considero importantes ou que me impactam. Os outros, a quantidade de bobagens que me fazem desistir no meio da sessão ou passar ao longo nas locadoras, esses eu ignoro. Mas é importante destacar algumas coisas insuportáveis do cinema. Precisamos dizer o que nos incomoda, para detectar parâmetros (às vezes não conseguimos identificar o núcleo do desconforto). A seguir, alguns itens desse assunto candente:

VAMPIRISMO - Odeio filme de vampiro. Não suporto a idéia de que chupar o pescoço alheio com grande caninos seja algo que dê tesão. O que mais me incomoda é que trata-se de uma maldade sem fim tratada como entretenimento. Pior: as mulheres nesses filmes, as pessoas em geral, se entregam como filhos da mãe para os hediondos chupadores. É a celebração do Mal pelo Mal.

CANIBALISMO - Desisti de seguir adiante no novo filme de Tim Burton, Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, sobre o navalhista sanguinolento interpretado por Johnny Depp. O diretor coloca a própria mulher, Helena Bonham Carter, excelente atriz, no papel da lojista fabricante de torta que aproveita a carne humana para rechear seus produtos. É de um mau gosto sem fim. Tudo ao som de músicas medianas, num filme dark horroroso, em que só faltam os caninos no barbeiro para o troço ficar completo. Brincam com essas coisas e depois ficam chocados com os casos de canibalismo, reais, que a polícia descobre.

ESCATOLOGIA - Ontem, segunda-feira, na Tela Quente da Globo, vi um pouco do filme em que um idiota metido a gigolô na Europa participa das cenas mais nojentas possíveis. O cinema americano adora mostrar porcarias que as pessoas fazem como se isso fosse engraçado. Adoram filmar gente mijando, cagando, vomitando na privada ou que sei eu. Já temos urina e fezes o suficiente na vida diária, com tanta falta de esgoto e políticas públicas de saneamento básico inexistentes. Para quê tentar fazer comédia com isso? É demais, é muito filme asqueroso para suportar. Odeio produtos da indústria cultural em que as pessoas “se cagam e se mijam”. Virem esses troços para lá.

IMPERIALISMO - Continuo me perguntando: os atores, produtores e cineastas entram em acordo com a CIA e o FBI para provar como os americanos são fodalhões e chutam o traseiro de todos os povos, dentro e fora da América, ou eles acreditam piamente nisso? Acho que tem grana preta do Pentágono e outras instituições do Império na indústria cinematográfica e as estrelas apenas obedecem ordens. Sim, eles devem acreditar que os EUA são mesmo inocentes (será?). Mas daí a destroçar birmanenses, nicaraguanos, árabes, africanos com convicção e baba de prazer na boca é outra coisa.

VIDEOCLIPISMO – Fazer videoclipe no meio do filme é de uma pobreza visual e narrativa sem fim. Vi recentemente “Meu nome não é Jonnhy”, que é uma sucessão de videoclipes. Depois descobri que o diretor faz isso mesmo, na publicidade. Puseram o cara a criar clipezinhos ao longo do filme. Esse é um recurso usado até o osso. Se o cineasta não tem capacidade de manter segura a estrutura do filme, então vá fazer outra coisa, não cinema.

COVARDIA - Tem filme demais em que as vítimas sofrem horas nas mãos dos mais variados tipos de covardes. É mulher apanhando, criança sendo morta, desarmados sob tortura. Nesse ambiente, inventam good guys (os chamados antigamente mocinhos) truculentos, que ficam à altura da covardia reinante. Tudo isso desvirtua os valores, inocula o vírus da maldade, pois só sendo horroroso para conseguir peitar a brutalidade. É a celebração da covardia, como se fosse um novo valor moral.

RETORNO - 1. Imagem de hoje: Depp e Carter no filme do barbeiro matador. Vingança não justifica caniobalismo. 2. Pode parecer contraditório bater na covardia explícita dos filmes depois de elogiar "No country for old men". A diferença é que os Irmãos Cohen não produzem perda de tempo apelativa, é cinema de alta voltagem. Aqui, me refiro às bobagens que nos incomodam, como se fôssemos coniventes com todas as barbaridades. O Mal interpretado por Javier Bardem não é o gozo comercial de Depp interpretando o barbeiro. É diferente. Um nos aterroriza, o outro tenta nos seduzir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário