Você tira o filme na locadora sem apostar muito nele. E se surpreende. É o caso de O Resgate de um campeão (Ressurecting the Champ), um conjunto de acertos que o transformam num lançamento raro entre as barbaridades oferecidas em massa para o público sem opções. É sobre jornalismo, mais do que sobre boxe. Oferece perfomances primorosas, a começar com Samuel Jackson no papel do Champ, o ex-pugilista que vive nas ruas como mendigo. E mostra o roubo magistral de todo o show feito por um irreconhecível e magnífico Peter Coyote, que reproduz um velho empresário judeu de boxe, baseado em personagem real que conheceu na infância, já que o pai de Coyote era um boexeador e o filho se criou no meio dos ginásios dos pugilistas.
Segundo a Wikipédia, o filme, de 2007, filmado no Canadá, é dirigido por Rod Lurie e escrito por Michael Bortman e Allison Burnett, baseado num artigo publicado no L.A. Times Magazine por J.R. Moehringer. Além de Jackson e Coyote, o excelente Alan Alda e o jovem talento Josh Hartnett. E ainda mais uma ponta memorável, a de Teri Hatcher, no papel da âncora do programa esportivo Showtime, que avisa: “O jornalismo acabou, não existem mais notícias, ninguém quer saber de informação, mas de entretenimento. Coloque sua carinha bonita no vídeo e veja como é fácil trabalhar na televisão, não precisa fazer nada, apenas ser o que você é”.
Não importa que seja baseado em “true events”. Costumam me vender “baseado em fatos reais” como se fosse grande coisa. O importante é o que você faz com o material, real ou imaginário. E, nesse caso, só fizeram coisa boa. Além do mais, tudo é baseado em fatos reais. E toda representação é pura linguagem e representação. Portanto, vamos aos fatos.
O jovem repórter foi com muita sede ao pote e, para subir na vida, salvar seu emprego ameaçado pela internet, resolve vender uma pauta para o editor da revista da corporação onde trabalha. Trata-se de uma traição, pois ele cobre boxe para outro editor, o do jornal diário. Mas ele quer se destacar, fazer apenas umas doze matérias por ano, se aprofundar na profissão, o que é justo. O que não é justo é a maneira como ele faz, trocando os pés pelas mãos e pagando o maior mico diante do filho, que ele tenta conquistar.
O cara não consegue checar direito suas informações e se justifica com uma seqüência de álibis, coincidências, confusões e recusas. Uma lição do bom e velho jornalismo é dado por Ike Epstein, o personagem de Coyote: num ambiente dos anos 40, uma sala do ginásio esportivo, o empresário liga para algumas fontes, discando o antiqüíssimo telefone. Quando pergunta porque o repórter não checou direito a história e escuta as explicações, faz uma cara inesquecível de deboche. Segurando o gasto charuto, tremendo a mão pelo Parkinson, o personagem de Coyote é tão impressionante que merecia no mínimo um Oscar. Por muito menos deram a estatueta para a ponta feita por Sean Connery em “Os Intocáveis”.
Como a maioria dos filmes americanos, é sobre ganhadores e perdedores. É politicamente correto resgatar histórias de perdedores que, no final, se transformam em vitoriosos. Vitória em termos, pois nada muda na galeria de heróis. A visita da morte para o velho pugilista é representada por Rocky Marciano, o lendário boxeador que jamais foi vencido. Os vencedores continuam no mesmo lugar. O que o cinema americano faz é encantar os espectadores com histórias de pessoas que tiveram sua chance e a perderam, e conseguem resgatar alguma glória, mesmo à custa da própria vida. É o heroísmo possível dos que não deixariam marcas sobre a terra.
Alguém muito talentoso com as palavras, criticado pelo excesso de digitação e cobrado por qualidade, encontra nas ruas uma pauta. São as pautas, fora da tendência de ir a reboque do marketing da notícia, que vão segurar sempre os veículos de comunicação . Podem inventar o que quiserem, mas nada supera uma boa pauta desenvolvida com brilho num texto de primeira. O filme mostra como o repórter se deixou enganar pelas evidências que reforçavam a gana que tinha de vencer, de superar o nome do pai famoso que o abandonara ainda na infância. E como colocou tudo a perder por não seguir o básico da profissão, a checagem minuciosa, a paciência, o suor.
Assuntos candentes neste filme primoroso, que merece ser visto.
Segundo a Wikipédia, o filme, de 2007, filmado no Canadá, é dirigido por Rod Lurie e escrito por Michael Bortman e Allison Burnett, baseado num artigo publicado no L.A. Times Magazine por J.R. Moehringer. Além de Jackson e Coyote, o excelente Alan Alda e o jovem talento Josh Hartnett. E ainda mais uma ponta memorável, a de Teri Hatcher, no papel da âncora do programa esportivo Showtime, que avisa: “O jornalismo acabou, não existem mais notícias, ninguém quer saber de informação, mas de entretenimento. Coloque sua carinha bonita no vídeo e veja como é fácil trabalhar na televisão, não precisa fazer nada, apenas ser o que você é”.
Não importa que seja baseado em “true events”. Costumam me vender “baseado em fatos reais” como se fosse grande coisa. O importante é o que você faz com o material, real ou imaginário. E, nesse caso, só fizeram coisa boa. Além do mais, tudo é baseado em fatos reais. E toda representação é pura linguagem e representação. Portanto, vamos aos fatos.
O jovem repórter foi com muita sede ao pote e, para subir na vida, salvar seu emprego ameaçado pela internet, resolve vender uma pauta para o editor da revista da corporação onde trabalha. Trata-se de uma traição, pois ele cobre boxe para outro editor, o do jornal diário. Mas ele quer se destacar, fazer apenas umas doze matérias por ano, se aprofundar na profissão, o que é justo. O que não é justo é a maneira como ele faz, trocando os pés pelas mãos e pagando o maior mico diante do filho, que ele tenta conquistar.
O cara não consegue checar direito suas informações e se justifica com uma seqüência de álibis, coincidências, confusões e recusas. Uma lição do bom e velho jornalismo é dado por Ike Epstein, o personagem de Coyote: num ambiente dos anos 40, uma sala do ginásio esportivo, o empresário liga para algumas fontes, discando o antiqüíssimo telefone. Quando pergunta porque o repórter não checou direito a história e escuta as explicações, faz uma cara inesquecível de deboche. Segurando o gasto charuto, tremendo a mão pelo Parkinson, o personagem de Coyote é tão impressionante que merecia no mínimo um Oscar. Por muito menos deram a estatueta para a ponta feita por Sean Connery em “Os Intocáveis”.
Como a maioria dos filmes americanos, é sobre ganhadores e perdedores. É politicamente correto resgatar histórias de perdedores que, no final, se transformam em vitoriosos. Vitória em termos, pois nada muda na galeria de heróis. A visita da morte para o velho pugilista é representada por Rocky Marciano, o lendário boxeador que jamais foi vencido. Os vencedores continuam no mesmo lugar. O que o cinema americano faz é encantar os espectadores com histórias de pessoas que tiveram sua chance e a perderam, e conseguem resgatar alguma glória, mesmo à custa da própria vida. É o heroísmo possível dos que não deixariam marcas sobre a terra.
Alguém muito talentoso com as palavras, criticado pelo excesso de digitação e cobrado por qualidade, encontra nas ruas uma pauta. São as pautas, fora da tendência de ir a reboque do marketing da notícia, que vão segurar sempre os veículos de comunicação . Podem inventar o que quiserem, mas nada supera uma boa pauta desenvolvida com brilho num texto de primeira. O filme mostra como o repórter se deixou enganar pelas evidências que reforçavam a gana que tinha de vencer, de superar o nome do pai famoso que o abandonara ainda na infância. E como colocou tudo a perder por não seguir o básico da profissão, a checagem minuciosa, a paciência, o suor.
Assuntos candentes neste filme primoroso, que merece ser visto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário