15 de junho de 2008

JAPONESES NO BRASIL


Os japoneses são de um país sem terra. Não que haja pouca terra lá, não há terra nenhuma. É um arquipélago de rochas, o que obrigou a cultura deles a inventar tudo do nada. Sem madeira para queimar, se acostumaram a comer peixe cru, por exemplo. Para mim, não tem sashi ou sashimi que chegue aos pés de postas de dourado frito na beira do rio Uruguai. Mas isso não importa. O que vale é que o Japão não existe fora de sua cultura. Não se pode dizer o mesmo do Brasil. Se tirarem todos os habitantes do país, derrubarem as cidades, expulsarem as pessoas do campo, o Brasil continuará firme e o mato tomará conta de tudo. Já o Japão será apenas uma série de fósseis de ostras empilhadas batidas pelo vento, com alguns terremotos e vulcões no meio.

Agora estão fazendo o maior estardalhaço com o centenário da imigração japonesa. Como é moda achar que o Brasil é obra de estrangeiros, dos migrantes que vieram depois de três séculos de luta aqui dentro, é bom colocar algumas coisas. Os japoneses aproveitaram os erros da monocultura e do latifúndio para desenvolveram por aqui uma agricultura de pequenos espaços, fundado na produção intensiva, sustentada por métodos artificiais de plantio e colheita. O uso excessivo de agrotóxico é fruto dessa mentalidade de tirar o máximo proveito em termos de custo-benefício.

No momento em que acusam o Brasil de ser predador e envenenador do meio ambiente, é bom lembrar que toda nossa alimentação tradicional é fundada na abundância, no extrativismo e plantio não predatórios, já que por séculos nossos ancestrais se alimentaram do que colhiam e plantavam e a mata continuava firme, até que vieram os grandes deflorestadores internacionais e começaram a dar cabo de tudo (o fofo navio Queen Elizabeth, de usufruto da rainha da Inglaterra, é todo feito de madeira brasileira). Nas nossas roças, algo ficava para os bichos, não era preciso transformar o chão num deserto produtor de coisas. O desmatamento que há, ala Jeca Tatu, é o resultado da apropriação indevida da terra por parte do latifúndio. Este, por sua vez, já desmatou o que pôde, e continua na ativa.

Os territórios atuais do agronegócio, desde a soja transgênica até as hortaliças produzidas em série, desde as horrendas florestas de eucaliptos às pastagens artificiais para gado, roubadas da selva desmatada, são cemitérios da natureza. Não, os japoneses não têm culpa disso tudo. Mas estão envolvidos (a manga irrigada por águas do São Francisco – rio que está morrendo - no Nordeste, a cargo de empresários japoneses, “induz” a época da colheita com produtos químicos, como revelou neste domingo o Globo Rural). Não podem ser elevados à categoria de reis da cocada preta só pelo fato de serem japoneses. Parte do segredo do sucesso deve ser debitado à eugenia. Empresas de propriedade de japoneses ou seus descendentes costumam contratar só funcionários de olhos puxados. Assim é mole. Corporativismo racial, baseado na extrema fidelidade e, pelo que dizem das condições de trabalho a que estão acostumados, sem refresco trabalhista. Pode-se dizer, correndo o risco de exagerar: é um escravismo bem conceituado.

O Brasil tem ainda escravidão, mas não pode fidelizar trabalhadores por meio da raça, só por obra das leis de proteção social. Não temos raça, temos meta-raça, uma identificação baseado na experiência e no comportamento. Aqui nazismo não tem condições de colar - até os que se consideram alemães ostentam o nariz batata dos botocudos. A bugrada mandou ver no sangue europeu. Não entendo tanto orgulho de serem de outros continentes. Vejo na televisão o sujeito que espicha o queixo, alarga a testa e olha para o infinito quando diz que seus ancestrais vieram da Europa. Sei, aquele lugar de barbárie extrema, que matou 40 milhões de pessoas há pouco tempo e que expulsou gente pelo ladrão devido à carnificina, pessoas que vieram para cá refazer a vida destruída por lá.

As celebrações da imigração japonesa não podem se transformar na glorificação de uma raça. O centenário não deve servir para aumentar o fosso entre japoneses e brasileiros, como se a nossa população fosse um mau exemplo de formação de povo e os japoneses, esses sim, que portentos! São seres humanos como os outros. Mataram milhões em várias guerras, na invasão da China, com exemplos notórios de crueldade, entraram na Segunda Guerra ao lado dos nazistas e eram uma ditadura extrema até a metade do século passado. Não são a coisinha fofa que pintam. Têm valor, como todos os outros povos. Merecem ser homenageados, sim. Mas devagar com o andor.

RETORNO - Imagem de hoje: japoneses invadem a China e cometem barbaridades.

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