20 de julho de 2018

URGÊNCIA

Nei Duclós


Passa da hora em que a obra informal da tua palavra
precisa de um mínimo contorno, nem carece ficar pronta

Porque estamos em guerra
e a poesia é a porta de emergência
Onde se concentram a cirurgia e outros procedimentos
Que precisam do verso para enxugar o suor que manipula o bisturi
E haja sonoridade, e portanto clareza
para fluir o sangue nos dutos certos

E não apenas o verso
mas a estrofe que gruda na memória
quando o paciente apaga
Para que possa se acordar com a cura pousando na janela
Enquanto os anjos recitam o poema inteiro
E repercuta nos gestos como um molejo
Que exercita as articulações do resgatado e doloroso movimento

Passa da hora porque urge a fila dos ferimentos
E o que compões em silêncio em meio ao alarido
pode fazer a diferença



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