Nei Duclós
Há tempos queria ver o documentário lançado em 2007 da
Marina Person (assisti no canal Curta!) sobre o pai, Luiz Sérgio Person, que
com apenas dois filmes, São Paulo S/A (1965) e O Caso dos Irmão Naves (1967)
ocupa o top do ranking dos grandes cineastas brasileiros. O que me agradou foi
a quantidade enorme de informações que eu desconhecia do gênio.
Fica claro no belo documentário que ele é um cineasta de
forte influência do cinema italiano. Era um ator medíocre (como ele mesmo
reconhecia) de cinema e TV e ganhou uma bolsa de estudos num instituto de
cinema experimental na Italia e lá ficou por um ano e meio. Fez na Europa dois
curtas premiados, Il Ladro e Il Ottimista sorridente. Voltou ao Brasil para
filmar sua obra prima, São Paulo S/A.
A influência do cinema italiano é total na magistral saga de
Carlos, o brasileiro sufocado pelos compromissos numa cidade que se
industrializou rapidamente. Há muito Fellini nas cenas de desfrute inspiradas
em la Dolce Vita, com Darlene Glória, estonteante, ou a visita que ela faz à
mãe, tirada das memórias fellinianos de cenários vazios ao som do vento. E
mesmo no ritmo da história, ambientada na Roma personiana, a cidade de São
Paulo. Carlos é um Mastroianni perdido na voragem das mudanças, dividido entre a
ética e o desperdício, entre a moral e a falta de escrúpulos, entre a família e
a putaria.
Nos Irmãos Naves há uma carga pesada de Francesco Rosi e de
Visconti. Mas Person acabou ficando sem dinheiro e tendo que vender seu talento
para filmes publicitários e assim sustentar a família (mulher e duas filhas,
Marina e Domingas). Fez sucesso depois de ter sido humilhado (olha lá o diretor
de São Paulo S/A vendendo seus filminhos, diziam nos bastidores das grandes
agências). Tentou investimentos para filmar a grande obra de JJ Veiga, A Hora
dos Ruminantes, mas foi desencorajado: Ninguém vai ver isso! disseram. O Brasil
é craque em sepultar projetos no ovo.
Partiu então para produções como Panca de Valente (que está
inteiro no you tube, assim como São Paulo S/A) e Cassi Jones, o Magnífico
Sedutor, que é uma homenagem que fez à chanchada brasileira. Achava o pessoal
do Cinema Novo um bando de garotos cheios de ilusões e foi achincalhado como
intelectual (que no Brasil é nome feio) do cinema. Comprou o teatro Augusta e
montou peças como El Grande de Coca Cola,que foi o maior sucesso. Repartiu-se
em muitos numa vida curta. Encorajou José Mojica Marins, fez filmes que não
assinou, chegou a gravar cenas de um filme com Roberto Carlos etc.
Uma história típica brasileira. O gênio desperdiçado depois
de provar seu talento. Morreu num acidente de automóvel dirigindo em velocidade
numa estrada perigosa, aos 39 anos. Marcou a historia da cultura brasileira com
seu brilho. Assim maltratamos quem nos trata bem.
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