23 de agosto de 2016

ESPLENDOR E PÂNICO



Nei Duclós

É o poema que me revisita
faz o balanço no autor antigo
folheia seu espírito decano
observa o estilo do espanto

Deduz que assim estava escrito
o poeta que decidiu ter dito
o que parecia mais do que estranho
e hoje aguarda o verso na varanda
composto quando era quase criança
e que tinha a vasta sabedoria
da sonoridade em demasia
e a profecia feita sem segredo

Bastou tocar a túnicA do anjo
para ouvir o que a gruta escondia

É o primeiro livro que vê o poeta
em sua alegoria de mais idade
e confirma a árdua maturidade
do moço que agora se recolhe
com suas vestes de amor e cobre
em densa estátua de carne
e penugem e gosto de pétala
que traz em sua boca de prata
corpo presente, alma lavada
a recitar o assombro navegante
seu fermento, braço de um tempo
junto com o olhar semelhante

Pois todos são vistos nessa obra
e fazem parte do esplendor e pânico

RETORNO - Imagem desta edição: obra de Van Gogh

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