Nei Duclós
A janela se fecha à serenata. Mas
sei que respiras apressada através das venezianas.
Se eu estiver mudo é porque todo meu
corpo te escuta.
Não te mereço, flor do campo. Não
consigo colher o que me encanta. Sofro com essa falta de poder.
Versos que faço para ti antes do
desmaio. O poema na véspera do mútuo agarro.
Não ouse amar sem que proves do meu
beijo. Juro que não terás mais sossego.
Você é toda a delícia. Me sacias,
belíssima.
Posso ser esse sonho. Releve apenas
as cicatrizes, elas não importam. O que pega é meu olhar sobre cada detalhe de
tuas curvas e meu mergulho nas águas que te consomem.
Tudo diante da beleza vira súdito.
Tome tento sabendo a força do teu reino.
Quando não te canto não é uma
trégua. É sobrevivência. Preciso recuperar o fôlego.
Dorme o sono injusto. Tanta beleza
que descansar é um absurdo.
Nem a promessa de beijo me livra do
que me agendaste de surra.
Queria falar sobre a guerra, mas
abriste a blusa.
Tão cedinho e já estás de prontidão.
O corpo inteiro pedindo perdão por tanto querer.
Você é cheia de nove horas, mas
finge que é meia noite.
Olhos cansados, óculos vencidos,
viraste neblina. Talvez seja essa tua sina. E a minha, te perder de vista.
Crescente empurra o rosto na nuvem e
fica aparecendo só uma parte de sua luz, meio ovalada, de alguém que conversa
ainda deitada.
A Lua olha só com a metade do rosto.
O resto esconde, por gosto.
Te recolhes fingindo sono. Mas teu
trono vazio brilha no lugar da Lua que se foi.
Vi agora a Lua navegando acima dos
arbustos. Rasante, faltando um tiquinho para a Cheia. Ou não falta mais nada,
danada?
Levei um susto. No azulão da tarde,
a Crescente me espreitava, pálida entre os fios e as folhas. Deixa eu ficar
Cheia, disse ela. Aí vais ver só.
RETORNO – Imagem desta edição: Carol
Lombard, por George Hurrell.