2 de agosto de 2011

OFÍCIO

Nei Duclós

Esperam o escritor sumir para revelar seus embruxos
Faturam com alguém detestado em vida,
que amou por vocação.
Amor foi sua dor mais funda

Escritor não faz carreira
Quem faz carreira é o carreirista
Escritor joga fora suas chances
É que o ofício o distrai, como um vício

Escritor não escreve
Quem escreve é escrivão, escriba
Escritor se transforma no verbo que cria
e inunda as praças, como o vento sul

O louco da rua, o bobo da aldeia, o trôpego da Corte,
o varredor de sonhos,
o cara de mil bolsos, com guardados do Tempo.
Esse é o escritor

Escrever não é ser escritor.
Não é o uso da linguagem que o define.
Mas a palavra em estado bruto,
que emerge como criatura, antes da máscara

Escritor não se recolhe
para escrever o livro da sua geração.
Escritor tem sono pesado
e acorda em meio ao assombro da própria literatura


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