3 de abril de 2010

IGREJA CATÓLICA: RESPONSABILIDADES E CAÇA ÀS BRUXAS



Está certa a Justiça americana em querer enquadrar o Papa Bento XVI por ter acobertado o padre pedófilo que molestou 200 crianças surdas em Wisconsin. Não está certa a Justiça americana ao permitir que os soldados do seu país matem civis diariamente no Oriente Médio, obedecendo os ditames da indústria do petróleo e da geopolítica imperial. O ex-cardeal Ratzinger pode ser apeado do trono, mas a Igreja Católica não é apenas o Papa da hora, assim como os juízes americanos não são todo-poderosos, que poderiam impedir o envolvimento político do Império por meio da guerra nos países pobres. Tanta a Igreja quanto a Justiça são instituições acima dos erros de seus membros, mesmo que sejam crimes hediondos, como acobertar ou permitir outros crimes.

Por que estão acima? Porque existem em função de princípios e ações que servem de barragem à maré alta da bandidagem internacional. Esta, já fez o serviço com os muçulmanos, desmoralizando-os ao empurrarem os mais radicais para a violência, depois de desestabilizarem as regiões onde viviam. Fez também o serviço completo com os judeus, expulsando-os da Europa depois do massacre da Segunda Guerra. Os budistas estão sob controle, confinados pela China. E os protestantes, antigos e novos, se pautam pela dispersão: eles não tem a força de uma Igreja una, duplamente milenar, que ascendeu ao poder secular quando conquistou o coração do Império Romano e assim fez parte da gênese da maioria das nações do Ocidente.

Como desmoralizar um poder que está acima dos países, que forma o caráter de populações, que faz parte da educação de milhões de pessoas há séculos, que possui em seu acervo o que há de melhor e mais significativo em arte, sem esquecer a filosofia, literatura etc.? A Igreja Católica é um sapato no poder multinacional que precisa ter o território livre para impor suas forças, que são: o sucateamento das fronteiras para que meia dúzia tenha acesso a todos os recursos da terra sem ninguém para atrapalhar; o fim da moral e bons costumes para que todos possam consumir a tralha industrial envenenada sem tugir nem mugir, apesar das campanhas milionárias da falsa correção política; a multiplicação e superconcentração dos recursos, à custa do suor de bilhões de pessoas, entre outros objetivos.

Por não possuir um Vaticano, por não ser explícito e visível, esse poder sinistro se impõe pela negação da sua própria existência. Tudo o que bate contra ele é tratado como teoria da conspiração. Sua natureza é oposta a instituições como a Justiça ou a Igreja, que são palpáveis, possuem sedes e porta-vozes e representações onipresentes no mundo inteiro. Armar o circo como se fosse obra da natureza é a especialidade desse poder que estimula uma indústria como o agronegócio, que trata as terras aráveis como matéria-prima de desertos, em detrimento da agricultura pulverizada e familiar, que gruda a população ao campo, em vez de soltá-la como rebanho louco pelas cidades em ruínas, onde ficam à mercê dos invasivos oficiais ou marginais .

Um dos grandes álibis desse poder secular que transforma em marionetes a gentinha atualmente no poder (os estadistas de estádio) é se postar ao lado da modernidade contra ao atraso das instituições. Disseminar a ilusão de que combatendo a Igreja as pessoas imediatamente se inserem no futuro da humanidade é um truque pesado que enreda muita gente. Mas o poder que instaurou o eterno presente, eliminando os tempos próprios de nações e povos, para que se consumam as porcarias que fabricam, gera apenas vazio e medo, enquanto instituições como a Igreja e a Justiça são a trincheira onde almas e corpos se abrigam para enfrentar o terror instaurado como norma.

A caça aos padres pedófilos não se restringe aos casos, inúmeros, que pipocam há tempos pelo mundo todo. Faz parte de uma ação política maior, que usa todos os recursos, inclusive a ação de outras instituições, para difundir uma nova caça às bruxas, procurando limpar o terreno ideológico e midiático e assim impor uma falsa realidade: o poder incontestável do dinheiro globalizado especulativo, da indústria de armas e do petróleo (vejam o Putin na Venezuela!) e dos genocídios por meio invenções cada vez mais sofisticadas e mortais. Quando se tentou minar a confiança no catolicismo por meio do resgate da Inquisição, o Papa João Paulo II pediu perdão, o que serviu pelo menos para impedir maiores estragos na imagem da Igreja.

Mas agora a violência é muito maior, pois a Igreja errou ao conviver intimamente com o pecado da pedofilia e ficou assim vulnerável ao ataque. Que se faça justiça, mas que se tenha claro o enfoque político da campanha, que procura negar a obra da Igreja em mais de dois mil anos, e que não é pequena. Seus erros, seus equívocos, suas distorções, suas misérias fazem parte do humano. Mas a grandeza da sua presença num mundo cada vez mais hostil é necessária e irreversível. Não se tape o sol com a peneira, mas também não se ignore que os poderes que aproveitam os pecados são eles mesmos a fonte do horror apontado em território alheio.

Diz a Igreja que a pedofilia atinge 4% os seus quadros, um índice muito maior do existente na sociedade. Não justifica nada, apenas serve para mostrar que a porção maior do catolicismo não comunga com esse crime. Colocar todos os padres na vala comum da pedofilia é o mesmo que chamar todos os muçulmanos de terroristas ou todos os americanos de invasores. Devagar com o andor que o sábado é de Aleluia.

RETORNO - Imagem desta edição: Caravaggio e o Cristo morto.

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