8 de abril de 2010

DEMOCRACIA FAZ A DITADURA FUNCIONAR


A especulação imobiliária quer destruir a cidade praieira. Então convoca uma reunião para “consultar a sociedade”. Assunto: mudar o Plano Diretor, que vai permitir construir edifícios nas reservas ambientais e abrir as comportas dos morros, até agora verdes, para a construção siderada de condomínios de luxo e suas consequências, a favelização geral. As pessoas comparecem, fazem passeatas, o assunto é discutido e...as modificações sugeridas pelos tubarões são aprovadas na marra. É assim que a ditadura funciona.

Há um projeto de ficha limpa, que impediria os candidatos sob investigação ou condenados a disputarem eleições. Os deputados fazem a maior onda, comparecem em massa, acatam as assinaturas de um milhão e meio de pessoas e...adiam a votação. Resultado: o projeto será aprovado, com a diferença, imagino eu, que serão proibidos todos os que tiverem ficha limpa.

Como o país está podre, pobre e não tem para onde ir, fala-se muito em liberar milhões para áreas de risco. Liberaram. Quase a metade foi para um curral eleitoral baiano, enquanto o Rio ficou com menos de um por cento da verba. Tudo foi feito direitinho: a necessidade havia, os recursos foram liberados, os caras eleitos pelo voto direto tomaram conta e deu nisso aí. É assim que a ditadura funciona, usando todos os recursos da democracia.

Lula viaja, o vice está doente, o presidente da Câmara é candidato e não pode assumir no seu lugar. Sobra para quem? Para Sarney. alvo de denuncias pesadas na imprensa e até por livros best-sellers, como Honráveis Bandidos, de Palmério Dória. Ou seja, Sarney, egresso do PDS, partido da ditadura, que se passou para o MDB para assumir a vice-presidência da chapa com Tancredo e com a morte desse assumiu o poder sem ter direito a tanto, pois a chapa ainda não tinha tomado posse. Resultado: sua gestão aplaina o terreno para que a democracia fizesse o serviço da continuidade da ditadura. Agora ele vira presidente de novo. É assim que o regime funciona.

Alguma dúvida? Colunistas políticos falam em opção única entre Dilma e Serra, ou seja, já aparelharam as eleições nove meses antes do voto. É a ditadura dando as cartas por todo lado, na mídia, na política, nas verbas, nas tragédias. O prefeito do Rio prometeu que os carros levados pela enxurrada não serão multados. Tenha dó, tchê. Também dá a boa notícia de que as avenidas estão liberadas, apesar da má notícia de que 200 corpos devem estar debaixo dos escombros de uma aterro sanitário que virou favela. Onde estão os patíbulos públicos? Fazem falta.

Uma enxurrada de 24 horas provoca tragédia porque antes dela, por semanas e até mesmo meses choveu sem parar, preparando a terra para o deslizamento, sem que se fizesse nada a não ser correr atrás do pré-sal, dos candidatos federais, do futuro político. Quando uma tonelada de lixo sanitário trazendo casas, crianças e adultos pela frente, como aconteceu em Niterói, escancara o país que vivemos, é hora de perguntar: por que não derrubamos a ditadura?

Abaixo a ditadura e fora o imperialismo. As palavras de ordem de 1968 estão de pé.

RETORNO - Imagem desta edição: Revolução Francesa. Tirei daqui.

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