O supermercado Rosa, aqui na praia de Ingleses, em Florianópolis, mudou recentemente de sede, abrindo espaço amplo e limpo, com preços razoáveis para uma praia considerada cara. Sempre vamos lá. Ou melhor, íamos. Ontem, quinta-feira, um rapaz de sobrenome Pacífico, de família tradicional de pescadores aqui da região, funcionário subalterno, entrou armado num dia especial da semana. Toda quinta-feira tem (ou melhor, tinha) ofertas ótimas no açougue, com preços bem abaixo da tabela. Juntava gente e se você retirasse a senha só seria atendido meia hora depois e às vezes mais. Mas valia a pena a espera.
Pois no meio da tarde, quando 120 pessoas se aglomeravam no supermercado, o rapaz ameaçou todo mundo, espalhou combustível no setor de limpeza e ateou fogo. Depois apareceu com uma bala na cabeça. A tragédia deixou 32 feridos, sendo cinco em estado grave. Coisa só vista na televisão, há espanto geral na vizinhança. O que aconteceu, meu Deus?
Talvez toda a verdade venha à tona a partir de hoje ou talvez nunca saberemos ao certo os motivos do jovem considerado brincalhão e avesso às drogas. Diz-se que estava por ser demitido ou teria sido já cortado do quadro de funcionários. O certo é que ele passava por período de insegurança no trabalho. A pesca, por aqui, como no resto do Brasil, entrou em franca decadência. O extrativismo secou suas fontes devido à especulação imobiliária, em muitos lugares pela poluição ou ainda pela concorrência de grandes barcos e empresas que levam todo o peixe. Ainda há a fase da tainha, em que os cardumes que passam nesta época do outono acabam sendo apanhado em quantidades cada vez menores pelos que ainda vivem da pesca.
Não é correto especular sobre tragédias, mas algumas situações ficam evidentes. Uma família que tradicionalmente vivia da pesca hoje depende da população que migrou para cá, tanto para morar quanto para passar a temporada ou alguns dias dos feriadões. Pode-se imaginar o impacto que esta parte antigamente tão reservada (fica bem no extremo norte da ilha, a
Supermercado cheio de todos os produtos, gente comprando sem parar, e no outro lado da corda um salário pequeno, sofrível, insuficiente. Nada justifica a violência nem o gesto desesperado e suicida do rapaz. Mas a falta de planejamento urbano, de políticas públicas decentes, o que deixa populações inteiras à mercê de um mercado oscilante e muitas vezes predatório, são fontes e insegurança, pânico e violência. Os ilhéus são desconfiados por natureza, mesmo sendo cordiais a maior parte do tempo. Há um encanto em morar aqui, pois o hábito do convívio mostra a nós, adventícios, que apesar de inúmeras dificuldades, ainda resta aqui um espírito coletivo comunitário, em que as pessoas se identificam e, dependendo dos casos, te aceitam.
Mas há o conflito natural de um pequeno lugar que atrai gente de lugares maiores. Se lá é tão rico e maravilhoso, o que eles vem fazer aqui? De onde tiram tanto dinheiro? Por que compram sem parar? Afora isso, o supermercado Rosa também atraía massas de pessoas locais, pois competia duramente nos preços em relação a outros supermercados menores. Costumávamos oscilar entre o Rosa e outros pontos de venda, um pouco mais caros, mas mais confortáveis para comprar. O Rosa sempre estava apinhado de gente, especialmente nas quintas-feiras.
Hoje só existe os escombros do que foi um belo supermercado, que não pertence às grandes redes e se fez na ilha com competência e trabalho. Eu sentia um pouco de despreparo de alguns funcionários, mas no geral são muito gentis. Talvez não houvesse uma política eficaz de treinamento. Talvez isso tudo tenha ajudado a gerar ressentimento. Talvez, o que sabemos? A violência explode na vizinhança e ficamos de olhos parados e mãos amarradas. Você viu? O Rosa! Na quinta da carne!
RETORNO - Imagem de hoje: incêndio no Rosa, foto publicada no Diário Catarinense.
Pois bem, estava aqui em meu lar, conversando com minha esposa sobre seu trabalho, onde acabamos por entrar no assunto do incêndio, que arrebatou 9 vidas no hospital de caridade em 1994, o qual, nos dias de hoje, é o local de seu trabalho.
ResponderExcluirEm meio às pesquisas sobre estas notícias tristes, me veio a lembrança do trauma em que passei em 2007 no meu trabalho, o supermercado Rosa dos ingleses. Éramos jovens, o meu primeiro emprego. Existia um supermercadoque chamava-se Emília , que até o momento era o maior ou um dos maiores que haviam no bairro. O Rosa o comprou, e bem nessa transição eu entrei. O tempo passou, e trouxe novidades para o bairro, um supermercado novo, grande e com a prática de promoções e preços mais baixos, o que até aquele momento não eram praticados, porque sim meus caros, os preços eram altos.
A empresa estava em expansão, ganhando confiança e crescendo.
Puxa, como é bom lembrar, foi onde fizemos as melhores amizades, as equipes eram como irmãos, havia uma sintonia muito boa, trabalhávamos leves e felizes. E por muitas vezes, reuníamos o pessoal para um churrasco, isso quando não eram festas como junina por exemplo com todos caracterizados. Ahh, bons tempos.
Mas voltando, com a empresa em ascensão, com as duas maiores lojas da rede, uma novidade para empresa em si, começaram a reformar as mais lojas mais velhas, onde faziam uma seleção de alguns funcionários que até se dispuseram a ajudar na parte de retirada das mercadorias, de um lado para outro, para que pedreiros, pintores, refrigeristas, pudessem trabalhar. Aí que vem o problema: Não sei se foi somente com ele que aconteceu, mas como eram em lojas mais distantes, como Palhoça e São José, o liberavam tarde, quando não havia mais ônibus para retornar para casa, ele por vezes, teve que dormir em pontos de ônibus, pois não tinham a capacidade, de levarem ou darem o transporte necessário para volta, entre outras humilhações que o fizeram passar. E creio, que talvez o proprietário do Supermercado, nem soubesse das atrocidades que seus gerentes, subgerentes ou chefes de loja faziam. E também quero ressaltar, que não estou de acordo com que o rapaz fez, que nenhuma ação que ele cometeu, justifique o que ele tenha passado. Mas não temos como saber, como a pessoa que passa por humilhações assim, vai reagir. Talvez fosse mais sensato, principalmente para ele com toda sua vida pela frente, acionar a justiça. Mas que também sabemos, que no Brasil só funciona para os mais abastados.
Esse meu relato, após muitos anos do acontecido, trago para tentar fazer aos leitores, se é que alguém ainda vai ler isso, refletirem sobre seus atos, suas arrogância para com os outros, e também aqueles que são ofendidos, que não vale a pena dar sua vida por pessoas que agem assim.
Quero pedir desculpas por alguns erros ortográficos no texto acima, como postei como anônimo, não consegui corrigí-los.
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