2 de agosto de 2006

VOTAR EM QUEM?





Há uma campanha na MTV a favor o voto nulo, e que convoca a mocidade para agredir os políticos. Há uma acusação recorrente contra o crescimento de Heloisa Helena, a de que estaria a serviço da direita. A indignação popular, no lugar se ser conduzida pelos partidos, está a cargo de uma parte da mídia. E a possibilidade de uma candidata fora das cartas marcadas da sucessão começa a incomodar. Manifesta-se assim o voto útil, o atual voto de cabresto. Você não tem escolha. Se anular o voto ou optar por um candidato nanico, estará ajudando a eleger o tucanato, desde que haja o consenso de que o atual governo é uma opção de esquerda, o que já foi negado pelo próprio presidente.

A campanha segue seu curso com suas distorções. Primeiro, para se candidatar, o presidente não teria que se desincompatibilizar, como fazem os governadores? Não entendo porque o presidente não passa o cargo. Pois fica explícito que tudo o que faz é parte da campanha. É canhão contra baioneta, para usar uma metáfora do meu poema No Mar, Veremos. Sinto que há perplexidade geral. Depois dos escândalos, da frustração que foi este governo, e diante da possibilidade de os tucanos voltarem com suas boquinhas tortas e moles, a arengar pseudo-modernidades, e diante da incapacidade de partidos menores se articularem em favor de uma alternativa concreta, fica o impasse.

Não entendo também porque o Roberto Freire tucanou. Por mera oposição ao governo? E porque o Cristóvão Buarque insistiu em se candidatar, se não acredita em suas chances. Por que não deixou a vaga para alguém nitidamente trabalhista? Quando afinal o PDT vai acreditar na própria força? Para mim, há um boicote. Quem dirige o PDT não quer que o partido deslanche. É um erro antigo. Há uma juventude focada no trabalhismo, militante. Parte dela chiou com a candidatura Buarque, mas em vão. Vejam o caso da Heloisa Helena. É uma defecção do PT, fica falando em consultar a sociedade quando a hora é de agir prontamente, como no caso da segurança, e está aí, crescendo. Um trabalhista convicto teria grandes chances. É preciso se desvencilhar da herança pesada do anti-getulismo, essa campanha difamatória de décadas, que começou na velha UDN e atingiu o esplendor nos acadêmicos que forjaram o conceito de populismo no Brasil.

Como vêem, não tenho candidato. Tenho votado em trânsito nas últimas eleições, pois ainda não transferi meu título. Em princípio, todo mundo deve votar conforme seu coração e consciência mandam. Vote tucano, PT, Helena, Buarque, Luciano Bivar e sei quem mais, mas vote conforme ache. Não se deve pensar em esquerda ou direita, pois uma chapa que se elegeu como o anti-PSDB fez o que fez, então tudo está liberado. Fazer o jogo da direita é o mais velho truque dos oportunistas. Votar não é fazer o jogo da direita. Votar é ajudar a inventar uma democracia. Enquanto houver voto de cabresto, essa sucessão café-com-leite tucano-petista não terá fim e não teremos democracia.

Quando à ira popular contra os políticos, é mais do que justa. Se não é mensalão é sanguessuga. Não se levanta um muro, não se pinta uma escola. Tudo escoa pela publicidade. Isso é mais do que sabido. Qual a saída, me perguntou um amigo. Sei lá. Eu voto em trânsito. Não anulo, não faço jogo da direita nem ajudo a eleger meliantes. Consultem a sociedade.

RETORNO - Imagem de hoje: Sufoco, de Marcelo MIn.

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