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O duelo em Enemy at the Gates (Círculo de fogo, 2001), de Jean-Jacques Annaud, é entre dois olhares, duas percepções: a do atirador que vira herói em plena batalha de Stalingrado (Jude Law, perfeito), e o major alemão, professor de tiro e aristocrata, que veio para caçá-lo (Ed Harris, soberbo). Como mostra o filme no início, quando o menino dos Urais é treinado pelo avô para caçar lobos, o importante é atrair a presa e não ir atrás dela. Aguardar o momento certo, quando o inimigo se descobre, revela sua posição. Esse é o momento do tiro.
Melhor filme de guerra deste século, a obra de Annaud (O nome da Rosa) se fundamenta na alternância entre dois enquadramentos: o Close, que é entre dois adversários, peritos no ofício de matar à distância; e o Plano Geral, em que as batalhas são mostradas em movimento (quando aviões metralham barcaças, soldados apavorados avançam sobre as ruínas) ou em forma de pintura, inspirada na cena monumental de E O Vento Levou, quando a câmara se afasta e mostra Scarlett O´Hara no miolo do horror, entre centenas de mortos e feridos.
Annaud faz o movimento inverso: parte do plural para o singular. A cena nasce no mural de sangue e mergulha na cena íntima, onde conta a compaixão, o pânico, o desprendimento, a tesão, a esperança. Ele se aproxima do humano diante da morte, escudado por esplêndidos atores: Jude Law, como o atirador soviético Vasily Zaitsev; Bob Hoskins, como Kruschev, Joseph Fiennes, como o propagandista (diriamos hoje marketing) Danilov; Rachel Weisz, como a voluntária Tania Chernova; e o garoto Gabriel Thomson como Sasha.
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Diretor francês, personagens principais interpretados por atores britânicos, filmagens na Alemanha: eis um super-espetáculo que foge do enquadramento americano e nos brinda com o heroísmo russo na cidade que não poderia ser tomada, sob pena de decidir a guerra a favor dos nazistas. É sabido que os russos decidiram a paradae que os americanos mentem deslavadamente quando abordam esse assunto. Se mentem até sobre o Vietnam, que aconteceu nas nossas fuças, quando vimos os gringos se atirando nos helicópteros para fugir, imaginem o que não fazem com coisas acontecidas há décadas, ou mesmo...ontem.
A participação do Brasil Soberano na luta é uma página de heroísmo ainda não enfocada pelo cinema. Mas vem aí um trabalho que já está no ponto para ser filmado. Aguardem.
RETORNO - Na foto maior, o atirador soviético, interpretado por Jude Law, no momento crucial do filme, quando está diante do seu principal inimigo. Na foto menor, o inimigo nazista, interpretado por Ed Harris.
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