8 de janeiro de 2019

O REGRESSO: SANGUE SOBRE A NEVE


Nei Duclós

O livro O Regresso (The Revenant, O Renascido), do advogado e político do comércio internacional Michael Punke pode ser baseado em história real (que é uma ficção como qualquer outra, como notaram os irmãos Cohen), mas na hora do Alejandro Iñarruti filmar em 2015 (e hoje na Netflix),não teve outro jeito: se baseou em Sangue sobre a neve (The Savages Inocentes, 1960), de Nicholas Ray, com Anthoný Quinn. Como sobreviver à neve roubando sangue e carne dos animais, entre outras peripécias?

O cineasta mexicano sabe (ou pelo menos pode desconfiar) que tudo na Sétima Arte é sobre si mesma. Pois um filme é a soma de soluções cinematográficas já criadas (quando surge uma nova, é imitada até o osso, como e o caso da estátua da Liberdade enterrada na areia na saga do Planeta dos Macacos).

O filme poderia ser a incorporação de muitas soluções e assim mesmo se transformar numa bela criação, pois como a música que se baseia em sete notas (e seus desdobramentos), alguns instrumentos fornecem o material necessário para inventar. É o caso do ataque de índios a cavalo nos imigrantes brancos cercados, criação de John Ford e que se tornou cânone no cinema, para desespero dos analistas indígenas americanos. Mas Iñarruti preferiu ou foi obrigado a não arriscar. Tinha nas mãos o material de um profissional do marketing e do comércio, não podia brincar em serviço. Então, dele índio a cavalo atacando branco acampado..

O filme vira uma sucessão de lugares comuns. A dura sobrevivência na água gelada que misteriosamente jamais gera hipotermia, os nativos americanos bonzinhos contra os malvados franceses, a perseguição ao vilão, primeiro no tiro e depois na faca, numa longa sucessão de barbaridades, do qual o filme se serve à vontade. E tem Leonardo de Caprio, que mesmo deixando crescer (talvez seja falsa) uma barba quilométrica continua não tendo biotipo para os personagens que interpreta. Vestir uma tonelada de pele de urso também não resolve .Ele se arrasta, ele atira, ele foge, ele luta o tempo todo e o filme se perde numa história movida a clichês.

Mas por ter custado caro acaba sendo bem feito, com boa sequências de ação. E e sempre é divertido torcer para o mocinho mesmo quem ele seja o protótipo de janota almofadinha virando repasto de urso meio tarado.

Essa de se esconder no cavalo morto eu tinha visto em outro filme, Qual? Não consigo lembrar.



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