28 de janeiro de 2019

CANDELARIA: CUBA FRENTE E VERSO


Nei Duclós


O casal idoso que passa fome entre inúmeras dificuldades básicas, tendo ao fundo as arengas de Fidel sore o socialismo, é uma denúncia sobre o engessamento do regime comunista ou uma denúncia sobre as principais vítimas do boicote internacional liderado pelos Estados Unidos? O filme Candelária (2017, Netflix), de Jhonny Hendrix, que fez o roteiro junto com Maria Camila Arias, é o retrato terminal de um país onde tudo leva à morte: a doença, a miséria, a opressão, a idade, as casas caindo aos pedaços e o ambiente geral de decadência e ruína. Vejam o que o embargo faz, diz Fidel. Veja o que o socialismo faz, diz a história. É frente e verso de uma mesma realidade, intermediada pelo cinema.

Pois é de cinema que se trata, como sempre. O casal consegue uma câmara de vídeo e filma suas intimidades, redescobrindo a sensualidade e o humor, o que é aproveitado pelo vendedor de vídeos pornográficos, que começa a suborná-las para fazer mais filmagens. A pobreza leva o casal a uma redescoberta para o amargo sabor da perda da dignidade. Assim é o cinema: ele pode transcender como arruinar.

Nesse clima, criar é um crime. Não se pode empreender, tentar uns trocados fora dos esquemas oficiais, criar uns pintinhos só pela alegria de vê-los em casa. No fim tudo é reduzido a uma situação de morte do país, dos habitantes, do cenário. Fica o choro e a “nostalgia”, a saudade, pois os idosos são anteriores ao comunismo. Não que sintam saudade da ditadura antiga, mas não suportam a ditadura interminável de onde só há uma saída: a morte, ou a fuga pelo mar, o que pode significar também morte certa.



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