Nei Duclós
O casal idoso
que passa fome entre inúmeras dificuldades básicas, tendo ao fundo as arengas
de Fidel sore o socialismo, é uma denúncia sobre o engessamento do regime
comunista ou uma denúncia sobre as principais vítimas do boicote internacional
liderado pelos Estados Unidos? O filme Candelária (2017, Netflix), de Jhonny
Hendrix, que fez o roteiro junto com Maria Camila Arias, é o retrato terminal
de um país onde tudo leva à morte: a doença, a miséria, a opressão, a idade, as
casas caindo aos pedaços e o ambiente geral de decadência e ruína. Vejam o que
o embargo faz, diz Fidel. Veja o que o socialismo faz, diz a história. É frente
e verso de uma mesma realidade, intermediada pelo cinema.
Pois é de
cinema que se trata, como sempre. O casal consegue uma câmara de vídeo e filma
suas intimidades, redescobrindo a sensualidade e o humor, o que é aproveitado
pelo vendedor de vídeos pornográficos, que começa a suborná-las para fazer mais
filmagens. A pobreza leva o casal a uma redescoberta para o amargo sabor da
perda da dignidade. Assim é o cinema: ele pode transcender como arruinar.
Nesse clima,
criar é um crime. Não se pode empreender, tentar uns trocados fora dos esquemas
oficiais, criar uns pintinhos só pela alegria de vê-los em casa. No fim tudo é
reduzido a uma situação de morte do país, dos habitantes, do cenário. Fica o
choro e a “nostalgia”, a saudade, pois os idosos são anteriores ao comunismo.
Não que sintam saudade da ditadura antiga, mas não suportam a ditadura
interminável de onde só há uma saída: a morte, ou a fuga pelo mar, o que pode
significar também morte certa.
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