14 de maio de 2017

O DIA EM QUE ELA FOI EMBORA



Nei Duclós

Minha mãe se foi devagarinho
Já faz quase 40 anos
A respiração sumindo
Até parar na madrugada
em que houve um black out na cidade
no momento em que tocamos na alça
de sua definitiva morada

À tardinha daquele dia
quando enfim nos decidimos
a carregá-la pelas mais tristes ruas do mundo
caiu um granizo fino
a tamborilar no asfalto

Madalena, que morava no suburbio
E tinhha perdido a filha
Por muitos anos nossa babá e cozinheira
Soube pelo rádio e cruzou a pé a cidade
Com um ramo de flores para se despedir da amiga

Viajei no dia seguinte
Comprei a passagem com o dinheiro
que Dona Rosinha tinha reservado para mim
horas antes de morrer

Assim são as mães que dedicam aos filhos
o amor que eternamente pulsa
no pais que elas construiram
com a coragem do seu imenso coração


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