8 de fevereiro de 2016

O CINEMA QUE FICA


Nei Duclós

Revi agora no canal Arte 1 a parte final do clássico faroeste deJohn Sturges de 1959, Last Train From Gun Hill (Duelo de Titãs), com Kirk Douglas (na foto fazendo Earl Hollmann de refém) e Anthony Quinn. O cinema americano sempre opõe a lei à violência, com vantagens para a segunda. Os protagonistas tentam levar os suspeitos à Justiça, mas como todos sabem (a câmara mostra) que são culpados, então acaba prevalecendo o tiro fatal. A Justiça é uma chance de adiar o desfecho e mesmo com a perspectiva de pena de morte para o criminoso há o caminho mais curto de resolver a parada num duelo final.

Impressionante como Kirk Douglas quase sempre interpreta papéis do durão dentro da lei, enquanto seu filho Michael Douglas adora chafurdar em personagens sádicos e perversos, como em Wall Street e tantos outros filmes. Ontem mesmo vi um em que ele tortura um jovem no deserto. O filho confundiu a caratonha espantosa do pai com o Mal. Está errado.

Outro detalhe é a presença de Carolyn Johnes fazendo o papel recorrente da mocinha abandonada pelo herói nos faroestes. Não há maior solidão na Sétima Arte do que as mulheres apaixonadas por pistoleiros. Estes acabam preferindo ir embora sozinhos ou com seus parceiros, como vi num filme em que uma coitadinha abana o adeus para os felizes William Holden e John Waiyne, que somem na poeira.

Mas o grande destaque é o último lance de Anthony Quinn, que ao levar o tiro fatal vira-se para a câmara (está de costas para ela) e joga para o ar um rosto tomado pelo vazio. Ele olha para o nada, a morte. E cai definitivamente.

Grandes atores são bons até na hora de morrer em cena. Eles fazem parte do cinema que fica grudado na memória, como parte de nós

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