Nei Duclós
Não te economizo, desperdício de outubro. Gasto até o último
suspiro.
Perco versos, mas não me importo. Sei que guardas em doce
invólucro
Retribuo o que me toca. Teu verso, tua boca.
Não sei onde estava com a cabeça quando escrevi aquele verso
O poema me usa para o teu divertimento
É cedo ainda para soprar o vento. Por enquanto o sol paira
solene sem nuvens que o atormentem.
Nem todos os dias são iguais. Em alguns me queres mais.
Escolheste a flor que te representa. Sempre que passo por
ela, te enxergo
Não chore lendo o poema. A palavra não tem lenço.
A poesia é perigosa. Parece amor, mas é coisa pior.
Capricho no poema porque essa é uma chance única. Depois o
cosmo se encarregará de confirmar que tudo não passava de perda de tempo
Quando é amor, dizem que é engano. Concorde e fuja com ela
para longe.
Fiquei sem palavras quando te vi. Tinhas colhido todas.
Não é para ti que eu canto. Mas para o que se perdeu quando te foste.
Palavras de adeus. Navios que partem antes de chegar.
Amor é gota de sereno antes de sumir diante da imensidão do
amanhecer.
Tuas exigências significam que mordeste a isca. Só que custo
a acordar da sesta na pescaria distraída. E reclamo até cair a ficha.
Nossa música jaz na juke box de um resto de bar à beira de
uma estrada fechada.
MUSA PERDIDA
Inútil te invocar, musa perdida
perdi o raio que tua luz fazia
quando Cupido afiava as flechas
uma após outra, na outra vida
CULTIVO
Cultivo da palavra, planta sem valor
que usa qualquer terra.
Brota, alimentada pelo sereno.
Resiste ao sol do deserto.
Gera devaneio ao dobrar-se
ao vento.
Combina flor com fermento
CARDUMES
Sim, tua terra tem mar
tu és o mar, minha sereia
Cardumes no teu olhar
sorriso de maré cheia
Todos te querem voar
asa solta sobre a areia
TUDO É MAR
Tudo é o mar
e o resto é o meu coração
avistando terra.
Tudo é sal
e o resto é o amor
pedindo água.
RETORNO - Imagem desta edição: Grace Kelly.
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