4 de outubro de 2014

GESTOS EXTREMOS



Nei Duclós

Fazemos gestos extremos para mostrar o que somos por baixo do que não vemos.

Não te escrevo mais, indiferença. Lês apenas o vento que me expulsa.

Combinamos a eternidade em frente ao mar, na praia que cultivou o amor verdadeiro.

Soprei enquanto estavas completa. Depois vi cada pluma tua dominar meu verso.

Do fim ao começo. Mulher que me escreve inteiro

Não haverá encontro. A não ser que uma estrela beije a Lua.

Nos amamos como chuva de granizo: fazendo estrago

Doninha de si. Nua só de um lado. Do outro, recato.

Cabelo no ombro, sombra que não piso, voz que fala ao anjo.

Você na areia me olhando. Me consolo te vendo, flor que não cultivo, mel que guardo dentro.

Descobriste a pólvora. Soltas faísca a toda hora. Vê se te segura, espoleta.

A ausência tem frestas por onde te espio.

O amor volta porque nunca foi embora.


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