6 de janeiro de 2012

TEMPO DE DIZER


Nei Duclós

Hora de levantar. O sol ocupa a varanda do mar

Tempo de dizer. Calar-se ficou para trás

Depois de se concentrar sobre as dunas, uma gaivota rompe a parede do olhar e se atira no horizonte com asas imitando velas

Sou um pintor de palavras. O verbo reproduz o poço onde jaz sua imagem

Ao seguir o rastro das linhas que formam a fala encontraremos nada, porque o tempo todo ela morava em nós, ostras cegas

Pesquisadores descobrem que pinturas rupestres não reproduzem cenas de caça e do cotidiano, mas estados alterados de consciência

Sopraste teu segredo: desejas meu desejo. Não meu objeto de desejo, mas minha ação de desejar

Eu entendi. Quero que explique de novo só para te escutar

Descobri que gostas do meu silêncio. Vou aprender mímica

Dias e dias sem ti. O tempo entrou em parafuso

Passaste lotada por mim. Eu estava muito ocupado pensando em ti

Sei que acabou. Continuo aqui porque aguardo o adeus mudar de idéia

Não quero ser como aqueles com quem te entendes. Não seria eu, que te amo
Se solta pega de volta

Estou te esperando. Todo avião que chega és tu, inconstante

Vieste enfim depois de muitos anos. A cidade toda tinha ido embora. Menos eu, retrato na tua bolsa

Mais um chance. Clico a esperança. Mas assim como o crepúsculo, não reverte


RETORNO - Imagem: Sylvia Pankhurs, militante pelo voto feminino

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