8 de fevereiro de 2007

EXPRESSÕES ENIGMÁTICAS


Não entendo uma série de expressões de uso muito corrente e que jamais são contestadas em seu sentido ou na sua real função. São elas:


DAR UM BASTA - Toda hora alguém está dando um basta ou pedindo para dar um basta. Nada deixa de acontecer só porque alguém decidiu dar um basta. Não sei porque continuando querendo dar um basta, ou pior, reproduzindo isso como se fosse a solução definitiva para tudo aquilo que merece mesmo um basta. Alguém precisa dar um basta nisso tudo.


ESTADO DE ALERTA - É assim o estado de alerta: todo mundo fica de olho parado. Puxa, cidade tal ficou em estado de alerta. Todo mundo foi dormir, mas oficialmente estão de alerta. Tem alguém de prontidão? Houve exercício, treinamento, para que o alerta funcione na hora agá? Há recursos, funcionários, cultura específica implantada, percepção real do perigo em sintonia com as soluções emergenciais? Ou estado de alerta é apenas um estado de espírito, ou pior, uma campanha de marketing?


FORÇA TAREFA – É apenas a composição de duas palavras fortes. Não faz sentido: é uma força que pegou algo para fazer? Que força é essa? Força militar, intelectual, de prestígio? E a tarefa é fazer o quê? Resolver o problema, solucionar o impasse, dar uma resposta efetiva imediata? Ou serve só para ocupar o noticiário? Tem força tarefa para tudo. É a resposta mais comum de quem não sabe o que fazer. Monta a força tarefa e pronto, está limpo, já se pode assistir televisão tranqüilo.


SAIA JUSTA - Parece que todo marmanjo adora uma saia justa. É o que o noticiário costuma difundir. Fulano provocou uma saia justa em sicrano. Numa época em que ninguém mais usa saia, a não ser o Príncipe Charles quando vai se roçar numa tuna na Escócia, fica estranho essa chuva de saias justas para tudo que é situação. Saia justa é do tempo em que elas eram afuniladas no joelho e costumavam gerar algum tropeço. Saias de verdade usadas por mulheres. A cintura era finíssima, apertada por grossas cintas. Ficava aquela saia bem justa nos quadris, para o deslumbre da moçada.


EU ESTOU CONVENCIDO - Quando alguém decidia contar alguma vantagem era chamado de convencido. Hoje todo mundo está convencido de alguma coisa. É porque não passam de um bando de convencidos. Enchem o peito, enrugam a testa, torcem os ombros, sacodem os dedos e tascam: Eu estou convencido...É a maneira de dizer: a opinião de vocês não interessa. Já me convenci, portanto vou fazer como bem entendo. Vocês, que não são convencidos, agüentem.


CONSULTAR A SOCIEDADE - Como se a sociedade fosse alguma médica ou consultora. A sociedade, que eu saiba, é a máfia. O resto é um bando de pessoas sem ter onde cair vivo, na mão das mais variadas organizações. Quando dizem que vão ou foram consultar a sociedade, é batata: já roubaram, ou vão roubar; já decidiram ou vão decidir; vão cobrar pela pesquisa; vão adiar o problema; vão dar um basta na semana e ir para a praia; e ainda por cima ficarão em estado de alerta sobre o teu dinheiro; por isso já criaram uma força tarefa que vai deixar na maior saia justa todos os inadimplentes, ou seja, a cidadania em pânico que os sustenta e os atura.

RETORNO - Imagem de hoje: a versão da saia justa por Helcio Toth.

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